terça-feira, janeiro 02, 2007

Introdução para a versão internet


A Y-Guaçu Secreta – As Cataratas do Iguaçu como um chakra da Terra, é um livro novo. Foi lançado em 2005. Colocá-lo na internet foi um passo natural. Penso nos milhões de brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos, caboverdianos, guiné-bissauenses e outros possíveis leitores em Timor Leste, Macau, Goa, Diu, Galícia etc – sempre há a possibilidade de haver alguém em algum lugar desejoso de saber algo sobre o aspecto multidimensional das grandes manifestações naturais. O livro está disponibilizado gratuitamente. O trabalho continua para disponibiliza-lo também em espanhol e inglês – embora o texto possa ser sofrível (em inglês, Disponibilizei minha tradução das Belas Palavras que trata da Visão Guarani do Universo)

No aspecto ecológico as Cataratas do Iguaçu precisam de proteção e cuidado. Este ano, as Cataratas secaram. O rio Iguaçu secou. O aquecimento global é apontado como um dos fatores responsáveis. Se as Cataratas continuarem a ser alvo de abusos ambientais e econômicos poderemos ter sérios problemas. Este chakra da Terra não pode ser bloqueado. A versão impressa do livro ainda está disponível. Estou promovendo a venda dele como item de colecionador. A meta é levantar fundos para investir nos projetos ExpoVida, Permacultura Urbana e o turismo ecopsicológico – quer dizer baseado na ecopsicologia, economia solidária e técnicas alternativas de vida.

Nesta versão online, abusarei dos links e outros recursos que mudaram o nosso modo de “ler”. Aqui me lembro e presto homenagens a Marshall MacLuhan, o homem que previu a revolução dos meios. Obrigado.

Uma nota: as pessoas que desejarem fazer uma contribuição financeira para ajudar na missão deste blog-jornalista, blog-escritor, blogueiro-divulgador, entrem em contato para saber como podem proceder.

Que a Paz prevaleça na Terra!
Que la Paz prevalezca en la Tierra!
Toiko Py'aguapy Tenondete Ko Arapy Rehe!


Capitão Leônidas Marques, Estado do Paraná, Brasil
em novembro de 2006

Sugestão de Jornada

Y- Guaçu – Uma Jornada de Auto-descoberta e Purificação

O que é? É uma jornada, uma viagem pessoal para o desenvolvimento, descanso e renovação. As Cataratas do Iguaçu são um Lugar Sagrado para o povo Guarani. São a Fonte da Neblina Criativa que ascende para os céus desde as Cataratas conectando dois mundos. O mundo dos humanos, o mundo material, e o mundo da realidade. Este mundo nosso é uma reflexão do mundo real. A Neblina Criativa foi criada por Nhamandu Etê, nosso pai, o primeiro. A Neblina foi criada para refrescar as cabeças dos numerosos filhos de Nhamandu. A Neblina está alojada no topo de nossas cabeças, de onde ascende para o Universo.

Os elementos importantes nesta terra Guarani são: a Neblina, as Chamas Crepitantes, a Água, o solo vermelho, o verde da floresta, as rochas basálticas - testemunhas de nossa insignificância da altura de seus 120 milhões de anos.

Esta jornada é organizada como se fosse uma “excursão”. Tudo o que tem a ver com a parte comercial (fretamento de ônibus, hotel, guias de turismo, restaurantes, entrada ao Parque Nacional e Patrimônio da Humanidade) é feito por agência de turismo e os organizadores. O autor cobrará um taxa por pessoa a título de contribuição.


Sugestão
de Programação

Primeiro Dia. Chegada ao Hotel. Check-in. Introdução ao Programa. Com oportunidade de iniciar vivências (Dança. Meditação, círculo).

Segundo Dia. Círculo de Compartilhamento. Visita ao “Lado Brasileiro” das Sagradas Cataratas de Nhamandu. Logo após passarmos o Centro de Visitantes, começa a nossa concentração energética para o encontro. Chegada às Cataratas de Nhamadu, a Y-guaçu, Fonte da Neblina Criativa e Creadoura. De mãos dadas pedimos permissão para a visita. Descida silenciosa, sem distrações, pelas passarelas. Esta é uma hora de conexão e de olharmos para o nosso centro. Nos damos as mãos, de novo, para obtermos a permissão de chegarmos à representação material da Neblina Criativa. Deixemos que a ocasião seja um batismo. Que simbolize um renascer. Deixe todos os problemas para trás. Deixe para trás o mundo que escolheu a ilusão.

Observação: Depois deste primeiro contato descansaremos em um local quieto. O propósito é permitir que saiamos de nosso estado de contemplação de maneira harmoniosa. Somente depois poderemos fazer fotos, tomar refrigerantes e participar de ótimas excursões organizadas pelo turismo local como rafting, arborismo, canyoning, Macuco Boat Safári e outros. Neste e em todos os outros contatos com a Fonte da Neblina levemos uma toalha e uma muda de roupa. O uso de capas de chuva sob a Neblina é ofensivo para as Cataratas, segundo a nossa visão. A exceção, são os meses ou dias frios quando vento Original sopra do Sul e é época de proteção pois a Natureza se renova.

Terceiro Dia. Visita ao lado argentino das Cataratas do Iguaçu. O ponto alto deste dia será chegar com reverência ao ponto mais sagrado das sagradas Cataratas do Iguaçu, o maior dos “saltos”, um vórtice poderoso de energia, um ponto de contato e conexão entre os mundos de Nhamandu – um lugar, infelizmente chamado de “Garganta do Diabo / Garganta Del Diablo”.

A topografia anatômica da Mãe Y-guaçu é marcadamente diferente da que visitamos /conhecemos ontem. Há mais distâncias a caminhar. Tome o seu tempo para respirar toda essa energia. Nos comportaremos aqui na mesma maneira que nos comportamos ontem: concentração, pedindo permissão sempre, não tirando fotos enquanto nos comunicamos com as Cataratas. Compartilhamos uma meditação especial para este momento. Este lado da anatomia da Sagrada Y-guaçu oferece muitas oportunidades para experimentarmos e vivenciarmos locais ricos em energia como a Ilha de San Martín.


Nota: O Centro Neblina Criativa (em formação) ou o autor não organiza excursões, agenda viagens, reserva passagens ou hotéis, contrata guia ou realiza qualquer ação que seja da competência das agências de viagens. Veja nossos links para encontrar empresas amigas que apóiam o movimento. As jornadas serão acompanhadas pelo autor no papel de facilitador de processos pesoais.

Índice

I Aos leitores da Terra Guardiã
da Fonte da Neblina Criativa
II Aos leitores de Todos os Lugares Sagrados
III Dedicação
IV Agradecimentos

V Prólogo I
VI Prólogo 2 - Sobre os nomes

Capítulos

1 As atitudes
2 As Cataratas Sagradas
3 Os filhos de Nhamandú
4 Embaixo como em cima – os Chacras Humanos
5 Os Chacras da Terra
6 O Sublime Monte Shasta
7 Titicaca – O Umbigo do Mundo
8 UluroKattjuta – As Linhas do Cântico
9 Glastonbury – A Mensagem de Avalon
10 A Grande Pirâmide
11 Kuh-e-Malek Siah – O Misterioso
12 As Alturas do Monte Kailash
13 Os Chacras Auxiliares
14 Cataratas do Iguaçu
15 Y-Guaçu e seus irmãos e irmãs
16 Bem-vindo à Agartha
17 Uma questão de foco
18 O Universo é um Fantasma
19 Os Métodos de Maya
20 As Grandes Manifestações
21 Uma mensagem para o turismo
22 Como Visitar um Lugar Sagrado?
23 A Anatomia da Fonte da Neblina
Glossários de termos
Bibliografia

Textos Extras

Agradecimentos

Este livro deve muito, a muita gente, da nova mentalidade, ou não, no Brasil, Paraguai, Argentina, Estados Unidos, Austrália, Europa, Índia. Deve também às comunidades indígenas Ticunas, Huitotos, Yaguas, Boras, Marubos, Korubos, Tucanos e Mirañas da Amazônia brasileira, colombiana e peruana. Aos Terenas e Kadiwéus do Cerrado e do Pantanal Sul-matogrossense. Aos guaranis do Brasil, Argentina e Paraguai com destaque para os Avás e Mbyás da região guaranítica chamada de Tríplice Fronteira.

Agradeço a Grande Roda da Vida pelo fato de haver permitido a existência de pessoas como Mosè Giacomo (Moisés Santiago) Bertoni, Guido Boggiani e Leon Cadogan – “estrangeiros” exemplares que deixaram obras que apontam para o resgatar o “dizer”. Sem eles não saberíamos, respectivamente, sobre a Civilização Guarani, os Kadiwéus e Paiaguás do Mato Grosso e o Canto Sagrado Mby’a-guarani.

Para citar nomes, agradecimento especial a Martin Gray – grande peregrino universal de lugares sagrados, que vive em Sedona, Arizona (EUA) – um grande chacra auxiliar do Planeta que tanto me incentivou. A Jane English que vive no Monte Shasta, Califórnia (EUA), o Chácra Básico do Planeta; Minhas amigas Corina Lange da Universidade de Queensland e Sarah Coleman, na Austrália que abriram, para min, portas daquele país na pesquisa da espiritualidade das centenas de povos conhecidos pelo mundo com o nome de aborígenes. A David Rand, psicólogo americano interessado na cosmovisão dos povos da Amazônia. David Canzone, um garçom neo-iorquino, com o mesmo interesse. Os dois muito me influenciaram.

Na tarefa de produzir este livro muita gente me ajudou direta e indiretamente. Para dedicar-me ao projeto multidimensional da escrita deste texto, foi necessário afastar-me do meu ganha-pão, o jornalismo diário, apressado, massificado com demasiado destaque para o lamaçal criado pelo que a civilização moderna chama de política, comércio e economia. Agradecimentos especiais a Fernando Martin, Ruth Sanches; Neusa Storch, minha companheira de significativo nome ornitológico; filhos de várias circunstâncias Lincoln, Midori, Gabriel, Renfih, Fernanda, Tiago e Rafael bem como aos meus índigos netos Mariana, Eric, William, Bruno e Marina; ao amigo Valmor Sparrenberger, testemunha de minhas jornadas Ticuna (Magütá) no Amazonas e por tantos outros motivos que já não consigo listar. Mônica Cristina Pinto, Natália Peres, Daniela Valiente, Bruno Andrion, o grupo jovem da UDC (União Dinâmica de Faculdades Cataratas de Foz do Iguaçu) do 6o período jornalismo (2004) que me chama de JACÃO; meu amigo Francisco de Alencar – o Chico, pelas notas e apoio e pelo fato de sempre ter dado ouvido as minhas inquietações e apoio moral no que tange à sacralidade da Fonte da Neblina Criativa. E muita gente desta e outras dimensões. A todos a felicidade da Neblina.

Este livro foi sonhado
ao longo de 2002, 2003 e 2004 em Foz do Iguaçu,
Florianópolis, Curitiba, Buenos Aires

Dedicação



Este livro é dedicado a Adama
Sumo Sacerdote de Telos
Monte Shasta,Califórnia

Pintura de Glenda Green
Saiba mais sobre Adama
Saiba mais sobre Telos

Aos leitores da Tríplice Fronteira*

Aos leitores da Terra guardiã
da Fonte da Neblina Criativa

Ko yvy oguereko jára
(Esta terra tem dono)


“Na realidade não há fronteiras” – Ken Wilber


As Cataratas do Iguaçu são um Lugar Sagrado de Paz e Poder pessoal e transpessoal. Encontradas em uma terra compartilhada por três países da nossa jovem e sofrida América: Argentina, Brasil, Paraguai. Uma Terra que para nós não é a Tríplice Fronteira, pois fronteiras nascem da separação. Uma fronteira significa estar às margens dos projetos nacionais de dois países. Três fronteiras é separação triplicada, multiplicada. Este livro propõe que vejamos esta Terra como “A Terra das Muitas Águas” e como “A Fonte da Neblina Criativa”. Um lugar de Paz. Um lugar de reunião de filhos do Cosmo nascidos em todos os continentes da Terra e além dela. Esta Terra é uma das entradas para Agartha – aquele mundo do qual falam tantas tradições. Esta Terra é parte daquelas tradições que incluem Paititi, Avalon e Shambala. Está ligada aos sete principais Lugares Sagrados do Planeta e aos milhares de outros pequenos irmãos.

Aos moradores da “Terra das Muitas Águas e Fonte da Neblina Criativa geradora da Paz e Sabedoria” vale destacar que um lugar com estas características merece, por direito, o respeito e o carinho dos moradores de todo o Planeta, incluindo suas autoridades constituídas. Para que isso aconteça, os moradores da Terra tri-nacional (hoje) e universal (sempre) têm certas responsabilidades. Em outras palavras, existe responsabilidade no exercício da guardiania da Fonte da Neblina Criativa.

As autoridades desta Terra são obrigadas por forças que elas não conhecem, a cumprirem com seus deveres – e honrar tanto a Terra como seus habitantes e assegurarem que os habitantes tenham condições de progredirem, com dignidade, em todos os níveis de progresso. O povo, os habitantes, os cidadãos, também têm suas responsabilidades.

Graças à falta deste respeito pela Terra das Muitas Águas, o projeto de civilização da Terra da Neblina Criativa foi desviado. A Terra não vive sua vocação, e por conseqüência, é perseguida e apontada pelas autoridades como centro regional, nacional ou internacional de delinqüências muitas. Entretanto, isto não é culpa da Fonte da Neblina; tampouco é da Terra das Muitas Águas. É culpa das energias humanas que se encontram fora de sintonia com as energias deste chacra da Terra, graças a uma grande ilusão. Cabe aos habitantes argentinos, brasileiros e paraguaios, bem como aqueles que vieram de longe, de além amar, de além das Montanhas – árabes, chineses, coreanos, europeus, respeitarem a Terra. O respeito tem que partir da Terra das Muitas Águas.

A Fonte da Neblina Criativa não deve limitar-se a ser explorada comercialmente em nome do turismo e do capitalismo saqueadores. Especialmente hoje quando já se fala e se tenta praticar variedades alternativas, tanto de turismo como de economia, ligadas a objetivos tão nobres quanto a Paz e a solidariedade, por exemplo. O caminho está à nossa frente. É só escolher em que lado caminhar. O caminho que tem coração está aberto. É hora de abandonar o caminho da exploração, do roubo, e das trapaças. Caso a opção não seja pelo caminho do coração, então teremos escolhido afundar juntos e estragar uma das grandes oportunidades de progresso real que Gaia (a Terra) nos deu.

Por enquanto, somos todos estrangeiros na Terra das Muitas Águas. Mensagem que serve também para todos os outros Lugares Sagrados, – como Brasília, – onde o que se pratica, lá, não está de acordo com o sonho. As Cataratas do Iguaçu, neste livro, chamadas de Y-Guaçu ou Fonte da Neblina Criativa, estão em perigo. Coisas horríveis estão para acontecer e irão acontecer, caso as populações não se unam em um projeto de eco-espiritualidade para salvá-las. Dizemos eco-espiritualidade pois está é a nova tendência.

A ecologia oficial também se bifurcou e se perdeu. Este livro trata da eco-espiritualidade. Este livro, por fim, coloca a “Terra das Muitas Águas” na lista em que ela sempre esteve com a exceção do período de exploração, roubo e miséria pós-colonial que já dura uma “pachakuti” – 500 anos. Que a população tri-nacional e multinacional da Terra das Muitas Águas se sinta legítimos integrantes da enorme família dos lugares - guardiões dos sítios de Grande Poder, do Monte Shasta, na Califórnia ao Monte Kailasa (ou Kailash) no Tibete. E dos milhares de lugares sagrados de toda a humanidade. Que a Paz das Cataratas do Iguaçu esteja com o leitor e que suas Neblinas lhes refrigerem a cabeça; lhes dêem clareza para o reencontro de caminhos e que a bifurcação do coração seja coisa do passado.

* Mantenho o termo "Tríplice Fronteira" porém aviso que o termo foi abolido de todo o material deste autor. Desde então utiizamos o antigo "Três Fronteiras" para a designação política e "Terra das Muitas Águas", para o propósito deste livro como consta do Glossário.

Aos leitores de todos os Lugares Sagrados

Os sistemas de energia vital da terra são muito complexos. Não há um só sistema de energia. O sistema de lugares de força, de grandes vórtices de energia planetária e cósmica descrito neste livro, é só um dos aspectos deste sistema múltiplo de energia. A Terra em si, a Terra na sua essência, deve ver-se com outros olhos e considerar sistemas de energia que nós, sequer, podemos imaginar. Os chacras da Terra, segundo a Terra, podem ter uma organização diferente. O seu chacra básico pode ser o Pólo Sul e o chacra coronário pode ser o Pólo Norte. Os outros podem correr ao longo de um eixo que liga estes dois pontos. O seu chacra umbilical pode estar em algum lugar do centro da Terra que também funcionará de maneira que nós não entendemos. Funcionaria segundo leis a serem entendidas segundo os moldes da ciência geológica e da mecânica de placas tectônicas.

A visão de chacras da Terra, tanto os sete principais, como os milhões de chacras auxiliares, é uma visão ligada à consciência da Terra – que dizer àquela inter-relação entre a Terra e nós – consciências humanas. Este livro não esgota o assunto.

Pelo contrário, abre uma porta para que mais pessoas na América do Sul, no Mercosul se lancem no entendimento destas questões tão naturais como o nosso respirar.

Por fim este livro é nosso – não foi fruto da criatividade do autor mas sim de um mergulho naquele inconsciente coletivo do qual Karl Jung falou. Aquele inconsciente que se faz presente em símbolos, mitos e lendas. E em muitas imagens. Que os moradores dos lugares sagrados de todo o mundo tenham consciência de seu significado.

Prólogo I Algumas Palavras

Algumas Palavras sobre a Fonte da Neblina Criativa

Este livro dedicado às “Cataratas” do Iguaçu e feito sob sua sagrada sombra e inspiração, tem como meta, reafirmar as “Cataratas” do Iguaçu como um Lugar Sagrado de Paz e Poder e “Fonte da Neblina Criativa”. O que tudo isso significa será oferecido, à discussão, durante o trajeto desta pequena viagem em forma de livro.

Porém adiantamos que os termos Lugar de Paz e Poder e Fonte da Neblina Criativa devolvem às Sagradas “’Cataratas’ do Iguaçu” a sua inteireza, livrando-a da fragmentação e minimização degradantes. É um lugar sagrado por ser um santuário. É de Paz pois é um lugar dotado de música e silêncio. Murmúrio das águas e quietude. Música silenciosa ou silêncio musical. Murmúrio energizante que apela para a verdadeira visão de cosmo.

É um Lugar de Poder porque é um lugar de concentração de energias, um lugar de extrema beleza visual, paisagística e estética com a capacidade de penetrar no âmago de nosso processo pessoal de percepção, intuição, formação de imagens, compreensão e religação à nossa realidade maior. É também um Lugar onde se disponibiliza a energia para a transformação pessoal, grupal e planetária. Se você quiser e permitir, poderá acessar o seu verdadeiro “eu” universal e cósmico.

Na “Fonte da Neblina Criativa” você não é alemão, brasileiro, boliviano, paraguaio, lituano, russo, japonês ou cidadão dos Estados Unidos da América. Você pode ser tudo isso – em um nível muito pequeno e superficial. Você não é presidente, primeiro-ministro, muçulmano, budista, presbiteriano, revolucionário. Deixe todas estas pequenas identificações fragmentadas e fragmentárias lá fora. Aqui, aos pés da Deusa, você é uma sinfonia universal completa. Ao mesmo tempo, uma pequena nota desta grande sinfonia.

Prólogo Dois

Sobre os nomes

“Mas... não há nada na natureza que responda a nossas palavras”
– William James
(um dos pais da psicologia moderna)


Até este ponto, a palavra “Cataratas do Iguaçu” vem aparecendo entre “aspas”. Isso acontece porque, a partir daqui, evitaremos palavras que perderam a vida, quer pelo seu uso excessivo, ou, pela falta de espírito nelas. A palavra é um dos maiores dons da humanidade e elas nascem carregadas de energia. Com o passar do tempo, as palavras podem perder energia, vitalidade e se transformarem em simples “barulhos”. Nesta visão da Sombra da Neblina, a palavra “Cataratas”, parece estar entre esses milhões de vocábulos barulhentos que perderam magnetismo. No mundo moderno, amor, esperança, alegria, felicidade, progresso, ecologia, são outros exemplos de palavras que perderam seu vigor.

O que se chama de “Cataratas” não é nada mais que o acidente geográfico facilmente explicado pela geologia – um dos fragmentos de nossa ciência. Segundo esta visão geológica, as “Cataratas” não passam de um afundamento ocorrido na superfície das rochas basálticas que cobrem 734,000 km2 da porção brasileira da Bacia do (Rio) Paraná, correspondente à formação geológica conhecida como “Serra Geral”. (No Mercosul a área coberta pelas rochas basálticas é de 1.100.000 km2). As rochas foram formadas pelo maior evento vulcanogênico registrado no Planeta. Não por uma erupção vulcânica, mas sim pela expulsão de magma através de fendas ou fissuras que se abriam na superfície da Terra.

O magma vomitado das entranhas do Planeta, quando em contato com a atmosfera, esfriava, dando origem à lava que mais tarde se transformaria em pedras. As pedras que vemos são magmas resfriados. O cânion do rio Iguaçu foi escavado porque as rochas originadas da lava eram mais fracas nesta região. Por isso, após milhares de anos, a água causou uma erosão regressiva. Quer dizer a água, de tanto bater, furou a pedra que retrocedeu. As “Cataratas” primitivas deveriam ficar no local onde o rio Iguaçu e o Paraná se encontram e que hoje é conhecido como Marco (ou Hito) das Três Fronteiras.

Em 20 mil anos, elas poderão estar totalmente no (que hoje se chama) lado argentino. Poderão estar no (que hoje se chama de) lado brasileiro ou poderão até secar – se o rio Iguaçu continuar a ser maltratado desde as suas múltiplas nascentes até sua desembocadura. Em um parágrafo se pode dizer quase tudo sobre o nascimento, paixão e a morte das “Cataratas do Iguaçu”. Porém isso não basta. Não preenche e tampouco eleva nossos espíritos.

As línguas humanas são um dos maiores fenômenos a ter acontecido no Planeta. São altamente simbólicas e, ao mesmo tempo, imperfeitas. George I. Gurdieff chamou a “palavra” de “fantástico absurdo cacofônico”. E como observou o pajé Kaka Werá, a palavra perdeu o sentido pelo mau uso ou pelo abuso delas. Se analisarmos a origem da palavra “Cataratas” vamos terminar admitindo que Gurdieff tinha razão.

A palavra “cataratas” vem do grego. A raiz da palavra (katarrh), é a mesma da palavra “catarro”. A imagem original, por trás desta palavra, era a de alguma coisa que fluía, escorria para baixo. Os gregos só conheceram Cataratas na África. Especificamente as Cataratas do Rio Nilo. “Catadupa” é outra palavra grega que serve como alternativa a Cataratas e é usada no Hino oficial de Foz do Iguaçu quando diz “Catadupa surgi da Neblina!”

As Cataratas do Rio Nilo eram chamadas de “Catadupas do Rio Nilo” e o povo que vivia na região das Cataratas do Nilo, eram chamados de “catadupos”. O mesmo pode ser dito do povo catadupo da Terra das Muitas Águas. A origem da palavra “catadupa” também é interessante.

A palavra tenta representar o som de um corpo caindo do alto. Seria mui educativo escutar a conversa original de um grego que retornasse do Nilo tentando explicar a alguém, da Ilha de Creta, o que é uma grande Catarata. – “É muita água que escorre pela pedra. É como um grande nariz de onde escorre alguma espécie de líquido. E a água cai, lá de cima, fazendo um barulho: catadúp! Como se a gente jogasse o corpo do inimigo”.


Na visão holística, visão cósmica que este livro pretende passar, palavras baseadas em imagens de corpos caindo, fazendo barulho nas pedras, ou, de nariz gigantesco com gripe crônica não fazem justiça a este Santuário, a este Lugar de Paz e Poder. Assim, a partir daqui, este Lugar Sagrado será chamado de “Fonte da Neblina Criativa” ou simplesmente “Y–Guaçu”. Água Grande. A fina Neblina Criativa é uma das duas fontes de Poder e Paz que Nhamandú, Nosso Pai, grande, o verdadeiro, doou a seus filhos e filhas que um dia deveriam encher a terra. A outra fonte dada por Nhamandú, foram as “chamas” crepitantes que juntas deveriam proporcionar conhecimento, esclarecimento, calma, ciência e iluminação.

Não é necessário muito esforço para se descobrir a Neblina nas Águas Grandes. A Neblina se forma na base da maioria dos saltos ou manifestações da grande criação. As Chamas e a Tênue Neblina são descritas no Canto Sagrado Mby’á Guarani. A Nação Guarani tinha, e tem, uma visão global da Terra de Nhamandú. A fina Neblina se encontra em todos os países, em todos rios, sobre todas as florestas. Porém Y-Guaçu é uma fonte de proporções, formas e presença incomparáveis. Além da suprema e inquestionável Y-Guaçu como Fonte da Neblina Criativa ou “Creadoura” - a Terra onde se encontra a Fonte da Neblina Criativa tem a oferecer, ainda, aos buscadores de si mesmos e da Neblina, inúmeras outras fontes menores – entre as menores, a maior é o Salto ou “Manifestação” das Águas Roubadas ou Salto Monday.

O que os Guaranis vêem como a Neblina – é o mesmo que os hindus vêem como o Prana – energia vital respirável, que está por toda parte do universo e dentro de nós mesmos. Vêem-na também como aquela fonte de belas palavras que são os níveis superiores da existência multidimensional. Assim dizer que as Cataratas do Iguaçu são a Fonte da Neblina Criativa é o mesmo que dizer que as Cataratas são Fonte de Prana ou Fonte de Energia, fonte de inspiração que nos pode dar criatividade espiritual, estética, cultural, mental que o mundo tanto necessita, hoje e com urgência. E criatividade aqui vem de uma palavra que é um misto de conhecimento com clareza.

Infelizmente, a Y-Guaçu – Fonte da Neblina Criativa, além de ser chamada de “Cataratas do Iguaçu” , cachoeiras, e saltos ainda foram fragmentadas, contabilizadas e medida em outros sentidos. Foi dividida entre dois países. Por isso, no linguajar do turismo materialista de massa, se fala de “Cataratas Argentinas” e “Cataratas Brasileiras”.

Viajantes desavisados podem acreditar que se está falando de Cataratas diferentes e não tão somente de lados de um lugar único e indivisível. Esta divisão é anti-natural e muito ingênua. Seria a mesma coisa que considerar um corpo como sendo dois por aparentar estar dividido em lado esquerdo e direito.

Mas além desta “visão” da “(di)visão”, a Fonte da Neblina foi também dividida em saltos e sofre a tentativa de quantificação deles. São 175 saltos. Há quem diga 275. Mediram-na em metros cúbicos, em litros e em galões. E ainda deram nomes aos “saltos”. Hoje temos: Salto Ramírez, Bejaruna, Bosetti, Cabeza de Vaca, General San Martín, Rivadavia, General Belgrano, General Peñon, General Mitre, Benjamin Constant, Marechal Floriano, Tres Mosqueteros e Garganta do Diabo /Garganta del Diablo – só para mencionar os que levam nomes masculinos, de militares, exploradores ou de pervertedores – o que é o caso do último personagem citado.

Eis uma amostra do poder da fragmentação imposta a cada centímetro do Planeta. Os povos chamados primitivos evitam dar nomes, de maneira leviana, às coisas. Não é o que ocorre com a civilização européia. Semeadores de nomes saíram pelo mundo a semear. Alvar Núñez Cabeza de Vaca nomeou a Fonte da Neblina Criativa de Saltos de Santa Maria del Iguazú. Para os nome como este. No dialeto Mby’á do idioma guarani, Diabo é chamado de Mba’é Pochy e significa “Coisa Raivosa”.

Os índios nunca pensariam em presentear o “Coisa Raivosa” com o que há de mais belo e majestoso na Terra de Nhamandú. Mesmo admitindo que vivamos uma fragmentação terrível das coisas, batizar a maior manifestação da Deusa e Fonte da Neblina Criativa como Garganta do Diabo é, no mínimo, muito estranho. E curioso.

Esse cuidado especial para não deixar o Senhor Diabo sem um lugar de honra na lista dos heróis argentino-brasileiros, faz lembrar o conto “Satanás” de Gilbran Khalil Gilbran. Gilbran conta que Padre Simão, fervoroso pregador que percorria as aldeias do Líbano, um dia encontrou o Satanás caído, à beira de um caminho, quase morto, desidratado, faminto, doente. Este, aos berros pedia ajuda ao padre para não morrer abandonado. Quando o padre finalmente reconheceu que o moribundo era o Diabo, ele o amaldiçoou e ameaçou prosseguir viagem. Mas o Satanás argumentou:

- “Não sabes o que dizes, e não calculas o crime que cometes contra ti mesmo. Eu fui e continuo ser a causa de teu bem-estar e de tua felicidade...não foi minha existência a justificação da profissão que escolheste, e meu nome o lema de tua vida? Que outra profissão abraçarias, se o destino decretasse a minha morte e os ventos desvanecessem o meu nome? Que outra coisa comprariam de ti amanhã, se soubessem que o inimigo morreu e que estão livres dos seus malefícios?”.

Depois disso, e depois de uma conversação mais reveladora ainda, conta Gilbran: “...o padre Simão aproximou-se do Demônio, carregou-o às costas e prosseguiu no seu caminho.”



Nesta nossa proposta, a das Cataratas como a “Sagrada Fonte da Neblina Criativa”, a Y-Guaçu aparece como o que realmente é: uma suprema manifestação do princípio feminino do universo. E esse princípio feminino, manifestado aqui, está equilibrado com o princípio masculino. Não é o que está acontecendo no mundo. Nos últimos cinco mil anos, o mundo tem recebido uma carga excessiva de masculinidade nas suas instituições civis, burocráticas, militares, pedagógicas, econômicas e religiosas.

O que chamamos de “Cataratas”, na linguagem do dia-a-dia, só existe porque há uma fusão do rio com a fenda aberta por poderosas forças geológicas. Durante o curto trajeto do espaço e do tempo em que o rio despenca, se lança, e está fundido na fenda feminina, ele renuncia seu papel de rio. Ele deixa de ser rio. E aceita ser somente água. Nada mais que água líquida que gera a Neblina Criativa, a vida, a paz e a cura. Ao contemplar as Cataratas, quem se lembra de estar vendo um rio? O rio não é mais o rio. Pelo menos enquanto está fundido naquele espaço que chamamos Cataratas.


As águas, o rio e a manifestação feminina que são a “Fonte da Neblina Criativa” estão fundidos. Mas são as “Cataratas” femininas que comandam. E essa é a lembrança que se leva para a casa. As “Cataratas” não estão interessadas em mostrar seu poder de forma bruta, pelo seu volume de água, pelos números de seus “acidentes”. Elas mostram seu poder, seu domínio, pela beleza e criatividade e pelo amor que inspiram. Estão interessadas em gerar bem-estar, assombro, emoção, transformação e cura para todos os que a visitam, que a elas vêm e que a elas destinam carinho.

Por isso, ser a Fonte da Neblina Criativa, um Lugar de Paz e Poder, como veremos adiante. É este também o motivo de propormos a “demissão” pacífica, voluntária e pessoal dos nomes utilizados para nomearem os seus “saltos”. Para substituí-los propomos que não usemos nome nenhum. Que seja o inominado e que entendamos os seus verdadeiros e inumeráveis nomes não-verbalizados. Que ressoemos com a Fonte. Que descubramos suas vibrações e vibremos com ela. O ato de nomear por nomear, nada significa. Pelo contrário, pode conter sinais que revelam o nosso interior, nossa visão de mundo e nossa disposição interior. Nomear algo é produzir, criar algo. Os nomes que têm sido usados até hoje, nada ajudaram a criar.

Dar um nome a alguma coisa “...é dar uma manifestação exterior ao que se acha em nosso interior”. É muito perigoso em termos de energia. Por isso, que o ato de nomear seja pessoal. A poderosa e majestosa Y-Guaçu não é vista do mesmo jeito por duas pessoas. O ato de ver é pessoal. As Cataratas, o mar, a selva, o rio, o gelo, a mulher deusa, o homem divino tudo é visto com exclusividade. Temos a ilusão de que todos vemos a mesma coisa quando olhamos para o mesmo objeto. Dê você os seus próprios nomes para as coisas que você vê – e guarde esses nomes para você.

Capítulo Um

As Atitudes


Este livro foi escrito com a intenção de trazer para os leitores, as idéias básicas, ou os princípios básicos por trás daquela atitude humana de nomear lugares específicos da Terra como Lugares Sagrados. Desde que a civilização começou – seja ela budista, hindu, xintoísta, oriental, ocidental, mesopotâmica, cristã, islâmica, judia, guarani, iaualapiti, inca ou qualquer outra – a idéia ou conceito de Lugar Sagrado está presente. Ainda bem que é assim.

A outra atitude é a materialista – fruto da “civilização” científica para a qual nada é sagrado. Tudo é explicável. Os rios, a água, as montanhas, o sub-solo, não passam de “recursos” – uns renováveis, outros não-renováveis. Até “gente” é um recurso. Desta vez, sob a etiqueta de “recursos humanos”. É fruto de uma visão de universo chamada “mecanicista”. Na qual tudo não passa de máquinas. Esta idéia dominou o mundo ocidental nos últimos 200 anos. Mas já começa a dar sinais de estar perdendo forças. A conseqüência dela, é sentida em todos os aspectos da vida. Desde a destruição do planeta, à crise econômica, institucional, espiritual, familiar e pessoal dos dias de hoje. Nos ocuparemos disto nos capítulos 18,19 e 20.

A missão deste livro é apresentar as Cataratas do Iguaçu, um lugar de valores paisagístico, estético, ético, espiritual e místico excepcionais, como um dos Lugares Sagrados, ou Lugares de Poder do Planeta. Devemos isso ao povo Avá – conhecido pelo mundo com o nome de Guarani. Para eles, as Cataratas do Iguaçu são um Lugar de Poder, um lugar onde podemos potencializar os nossos poderes. É também um lugar de “mandu’á” (lembranças). Porém as Cataratas do Iguaçu não estão sozinhas. Não são um acidente isolado. Integram, isso sim, uma grande família de Lugares Sagrados, que forma uma gigantesca teia (ñandutí) que cobre o Planeta. Um reconhecimento desta excepcionalidade, na versão moderna, é dado pelo título de Patrimônio Natural Mundial, conferido pela Unesco aos dois parques nacionais Iguaçu/Iguazú (Brasil/Argentina), que protegem as Cataratas e seu sistema vital.

Um dos reconhecimentos deste livro, sobre os Lugares Sagrados é que a grande maioria deles foi descoberta, consagrada, validada pelos primeiros habitantes de nossos países de recente história. São aqueles habitantes que os europeus cristãos encontraram quando desembarcaram de suas caravelas ou navios nas praias de todos os continentes e ilhas do mar. Os chamados aborígens da Austrália, os Maoris da Nova Zelândia, os índios da América do Norte, Central e do Sul, as nações africanas, povos de todas as ilhas e até povos europeus anteriores à cristianização.

Até o governo dos Estados Unidos, reconhece os Lugares Sagrados dos povos nativos daquele país. Os lugares encontrados em Parques Nacionais e outras terras federais. O reconhecimento veio com a Ordem Executiva assinada pelo presidente Bill Clinton, em 5 de maio de 1996. A ordem instrui as autoridades federais a facilitarem o acesso dos índios, cooperarem, colaborarem e, se necessário manterem secreta a existência desses lugares. Eis uma primeira sugestão, neste livro, de um belo exemplo a ser seguido pelos governos do Mercosul. Transcrevemos a interpretação de Lugar Sagrado segundo a Ordem Executiva:

"Lugar Sagrado" significa qualquer localização específica em terra Federal, discreta, estritamente delineada tal como identificada por uma tribo indígena, ou índio individual que seja uma autoridade apropriadamente representativa de uma religião indígena, como sagrado em virtude de seu significado religioso para, ou uso cerimonial de, uma religião indígena desde que a tribo ou autoridade apropriadamente representativa de uma religião tenha informado a Agência da existência de tal lugar”.


Além dos lugares sagrados tal como a Ordem Executiva reconhece, existem milhares de outros consagrados pelas grandes religiões ou tradições mundiais. Outros ainda, foram consagrados pela rede mundial de movimentos esotéricos, da nova mentalidade, que em seu poder de síntese e sincretismo adota a todos os Lugares Sagrados sem importar se são sagrados para uma tribo localizada na Patagônia ou Amazônia; se é a Catedral Católica de Colônia, Alemanha ou a Catedral de Nossa Senhora Aparecida no Brasil, a Grande Pirâmide do Egito ou Meca, na Arábia Saudita. É apropriado destacar aqui que a palavra esotérica significa simplesmente “algo que é conhecido por poucos”. Quando as coisas esotéricas começam a ser divulgadas, elas passam a ser “exotéricas” – disponíveis àqueles que estão fora do círculo fechado.

Esta rede mundial de Lugares Sagrados é tão grande que pouco sobra de não sagrado na Terra. E todos esses Lugares e seus povos estão conectados. Mas se a rede de Lugares Sagrados do mundo está conectada, como acontece essa ligação? Como os lugares sagrados se comunicam? Quais são eles? É sobre isso que vamos tratar a partir do capítulo três. Primeiro, vamos conhecer a visão de mundo dos guaranis, o nome era simplesmente Y-Guaçu e não se fazia a diferença entre Y-Guaçu, o rio e Y-Guaçu as Cataratas. As Cataratas e o rio. A mesma coisa.

E ao tratarmos de nomes, é apropriado dizer, aqui e agora, que Fonte da Neblina Criativa não é a proposta de um novo nome. Não é a sugestão de um novo nome a ser usado nos mapas, ou na literatura de divulgação turística. Fonte da Neblina Criativa é uma “certa” realidade. É um nome somente para aqueles que vêem ali a Neblina Criativa. Se alguém não vê nada ali, então para este, não há neblina, o que significa que este nome não é para seu uso.

Nesta abordagem que reafirma e reivindica o sagrado na Poderosa Fonte da Neblina Criativa, este livro propõe que retiremos de nossos corações a maioria desses nomes ou “formas energéticas sonoras” ultrapassadas dados a um dos lugares mais belos e poderosos do Planeta. Propomos a “aposentadoria” honrosa para a maioria dos nomes de pessoas que aparecem na lista como nomes dos “saltos” fragmentados das Águas Grandes (Y-Guaçu). Especialmente daqueles que mereceram chegar ali graças a seu papéis em guerras e revoluções e outras ações que representam o domínio do aspecto “machista institucionalizado” da civilização que nos levou à fragmentação do mundo nos últimos 500 anos. Esses nomes não são apropriados para o uso dos Neblineiros – os buscadores da Neblina Criativa no Planeta.

Há certa urgência, contudo, de promover a aposentadoria do cidadão imaginário e arquetípico que empresta o nome ao maior dos “saltos”. O senhor Diabo, emprestou o nome ao maior dos “Saltos” aquele que hoje é conhecido como “A Garganta do Diabo”. Os índios guaranis, os donos das Cataratas e filhos dos verdadeiros pais criados por Nhamandú, nunca pensariam em dar às Cataratas um Avás.

Capítulo Dois

As Cataratas Sagradas

“O dom da palavra repartido entre todos, fará circular de novo palavras que nunca haverão de desaparecer ... Se converterão em orações para pedir a vinda dos que resgatam o dizer”

Pe. Bartomeu Melià


Para os guaranis as Cataratas do Iguaçu são um lugar sagrado. São sagradas por serem um lugar de lembrança . Em cerimônias que são cada vez mais raras, ou totalmente raras, eles vêm a esta sagrada manifestação para “lembrar”. E isso acontece mesmo que suas mentes conscientes não lembrem de nada. A lembrança que eles vêm buscar está no ar. E está disponível a todos. Com nossas mentes holográficas, todos temos acesso a tudo o que aconteceu no universo. Sabemos todos os saberes. Já escutamos, vimos, sentimos, fizemos tudo.

Mesmo para os visitantes não-guaranis deste lugar sagrado, ou de qualquer outro, as lembranças chegam em forma de emoções fortes, lágrimas, uma abertura súbita de coração, um novo ânimo para a vida. Um arrepio. Uma vontade de se molhar na Neblina. Uma vontade de amar. Um sorriso. Um abraço.

A primeira lembrança é a de que somos partes desta manifestação gloriosa. Que somos parte de alguma coisa grande. A maioria se lembra de Deus – cada um à sua maneira. Líderes religiosos fazem orações. Outros deixam placas, pequenos monumentos e outras lembranças que denunciam a conspiração silenciosa do desejo humano de paz, felicidade, união e integração. Apaixonados se beijam e já foram muitos os que decidiram se casar sob a Neblina Criativa.

Os guaranis se lembram da criação tal como é contada pelas “Belas Palavras” – a história da criação do universo, da terra, da Via Láctea. Ver as Cataratas é ver a manifestação de Nhamandú. Nhamandú é o supremo, é a grande inteligência universal. Segundo as Belas Palavras, a primeira coisa que Nhamandú criou fora de si mesmo, foi o “fundamento da linguagem humana”. A segunda foi “uma pequena porção de amor”. Em seguida teceu um hino. Tão importantes eram estas três coisas que Ele as quis compartilhar. Com quem as compartilharia?

Com seus futuros filhos e filhas. Mas ao contrário de outros mitos da criação, Nhamandú não cria diretamente a humanidade. Ele cria primeiro os guardiões, os seres especiais que esses sim, criariam a humanidade. Assim Nhamandú criou um guardião e uma guardiã, da mais alta categoria aos quais chamou de Nhamandú Py’á Guaçu – ou Nhamandú de Coração Grande. Criou outro casal de guardiões ao qual chamou Jakairá. Criou um terceiro par de guardião chamado por Ele de Karaí. E finalmente criou mais um casal de guardiões a quem chamou Tupã. A cada casal foi designado um paraíso. Quatro casais de guardiões criou. Foram esses casais de guardiões que criaram os filhos de Nhamandu – a raça humana.

As três coisas que Nhamandú criou: a palavra, o amor e o hino são de muita importância na Terra Guarani. A palavra porque ela é criadora. O que cristãos, judeus e muçulmanos não podem discordar. Deus, segundo o Gênese, também criou tudo com a palavra. “E Deus disse haja luz, e a luz se fez”. O amor é importante porque ele é o reflexo de seu coração. Para os cristãos, o amor deveria ter a mesma importância que tem para os guaranis. Antes de haver sol e lua, Nhamandú se iluminava com o reflexo do amor de seu próprio coração. O amor foi o primeiro sol. Já o hino, é importante porque por ele sabemos destas coisas.

O mundo está com problemas porque as três primeiras coisas que Nhamandú criou estão com problemas. A palavra perdeu o sentido. O coração se bifurcou e o hino está silenciado. A palavra perdeu a mágica. Está vazia e sem coração. Sobre a palavra, o pajé, conferencista e terapeuta guarani Kaka Werá Jecupê diz:

“(...) Enquanto isso, o espaço entre a idéia e a atitude tem gerado a miséria humana. A palavra corre pelo governo humano sem espírito, sem cumprimento do que se diz. Pois palavra e espírito estão longe. A voz sai morta. Porém recheada de maquilagem para dar impressão de vida. A palavra assina tratado de Paz enquanto a mão acena guerra. A religião é surda, pois o espírito está morto.”

Essa morte da palavra pode ser vista em toda parte. Em nossa prolífica e eloqüente comunicação de massa. Na abundância de palavras. A palavra é manipulada e transformada em persuasão. O amor também foi enterrado pelas cachoeiras de palavras sem significado despejadas pela política, pela economia, pelas ciências, pelos dogmas, pelas religiões e especialmente pelo materialismo. Jesus alertou: “E por causa do aumento do que é contra lei, o amor da maioria esfriará”. O guarani diz a mesma coisa de outra maneira: “O amor se bifurcará”. E o amor também perdeu o sentido, tanto na palavra quanto na prática. O amor não é só sentimento. É um estado dinâmico de consciência. Por isso, a importância do amor. É o único mandamento que Cristo deixou: amai ao próximo. Mas especialmente, amai a ti mesmo. Amar a si e aos outros não de cabeça mas naquele estado dinâmico, naquela vibração que é o amor. Já o hino, quer seja o guarani ou qualquer outro hino ou música curativa, também silenciou. Está faltando música, hino, o canto no mundo.

Para ilustrar a importância da palavra, não só para os guaranis, mas, para todos os povos indígenas, e para mostrar a interconexão surpreendente que há entre todos os povos primitivos – no sentido de primeiros – compartilhemos alguns trechos da cosmovisão ou visão de mundo do povo huitoto – que habita áreas da Amazônia, hoje sob as bandeiras das repúblicas do Peru e Colômbia. Diz a estória-sonho:

“No início, não havia nada. Nem tempo, nem espaço. Nem deserto, nem oceano. Nem águia, nem floresta, nem montanha. A escuridão era vazia, silenciosa e parada. Então uma palavra navegou através do silêncio. A palavra era 'Pai'. Um ser surgiu da palavra 'Pai' e se tornou o Pai Nai-mu-ena.

Nai-mu-ena respirava. Ele pensava palavras. Ele dormia. Certa vez, uma sombra cintilante de algo serpenteou através da escuridão de seu sonho, como um outro sonho repentino dentro do sonho que ele estava sonhando. Ele tentou pegar esta sombra com sua mente e se agarrou a ela.

Mas a sombra cintilante que havia sido jorrada do escuro de seus sonhos não podia ser presa ou fixada a nada. Ele não podia pressioná-la com uma pedra, ou escorá-la com um pedaço de pau, porque nada existia ainda. Ele não tinha uma caixa ou uma caverna para guardá-la. Ele tinha medo que a sombra pudesse se desvanecer, de volta ao nada.

Então ele sacou de seu pensamento, como uma linha de algodão cru, o fio de uma idéia. Ele tirou a palavra 'Terra' de seu pensamento, e a pressionou na sombra cintilante, a sombra brilhante que ele sonhara se tornou o primeiro solo, o chão da Terra. Ele havia sonhado isto para a realidade. A Terra havia começado.

Então ele criou um outro ser, Rafu-ema, para ser o dono de todas as estórias. Rafu-ema se sentou em um espaço debaixo do céu e confeccionou esta estória em sua mente, para que assim nós pudéssemos escutá-la aqui na terra”.

Como vimos, Nai-mu-ena, criava enquanto pensava palavras. Destaquemos a beleza dessas figuras de pensamento: “uma palavra navegava pelo silêncio”, “um ser surgiu da palavra”. Observemos a relação entre respirar, pensar, sonhar e criar. Como Nai-mu-ena puxou o fio de uma idéia e tirou dela a palavra “Terra” e efetivamente a criou. Tudo isso mostra a importância da palavra. A importância das estórias.

E agora, voltando à Terra das Cataratas, a terra que encerra dentro de si, a lembrança da criação do universo, continuemos com as Belas Palavras que é a visão de mundo mby’á guarani . Além de ter sido uma das primeiras criações de Nhamandú, a palavra (ñe’ẽ em guarani) também se confunde com a própria existência. Ñe’ẽ significa tanto palavra como alma. Nós somos palavras-almas. Palavras que se materializaram e adquiriram consistência física. Daí a importância que deve ser dada às nossas palavras. Após ter criado os quatro casais guardiões, Nhamandú infundiu em cada um deles a “consciência de sua divindade.”

Eis mais uma boa lembrança que todos somos convidados a ter nas Cataratas do Iguaçu como um Lugar Sagrado. A consciência da divindade que Nhamandú infundiu nos nossos primeiros pais, continua em cada um de nós. Foi parte de sua criação. Também esquecemos desta verdade universal. Somos consciência divina. A consciência divina está infundida em nós. Ou como dizem os hindus, somos centelhas, chamas divinas do oceano de energia universal.
Depois de terem recebido a infusão da consciência de sua divindade, Nhamandú deu a cada um dos novos pais e das novas mães responsabilidades específicas. Quais são as atividades e o passatempo dos pais da humanidade segundo o Canto Sagrado Guarani? É o que veremos no capítulo seguinte.

Capítulo Três

Os senhores do universo




“O pulsar de uma estrela na noite é o mesmo do coração.
Homens, árvores, serras, rios e mares são um corpo com ações interdependentes.
Esse conceito só pode ser entendido pelo coração,
ou seja, de uma natureza interna de cada um” – Kaka Werá Jecupé
(Pajé e escritor guarani)


O casal Karaí foi designado como os “donos e vigias das chamas crepitantes”. O que são as chamas que os Karaí vigiam? É o fogo. Karaí é a entidade espiritual que rege, controla, e manda no fogo, um dos símbolos do espírito. Ao escutar as trovoadas que são freqüentes nos meses da primavera, os filhos de Nhamandú, na Terra, dizem estar ouvindo o crepitar das chamas. É como se nos céus estivessem queimando o campo e o barulho do fogo, lá em cima, é o que se escuta aqui como trovão.

Ao casal Jakairá, Nhamandú disse:

“Vigiarás a Fonte da Neblina que gera as palavras inspiradas. Faz com que seus filhos vigiem aquilo que concebi em minha solidão, e em virtude disso faz com que se chamem: donos da Neblina das palavras Inspiradas”


O que são as Neblinas? O que são as Neblinas das Palavras inspiradas? Entender o que são as neblinas é um desafio. As Neblinas devem ser entendidas pelo coração e não pelas palavras abundantes. Num primeiro plano a Neblina é a neblina que se vê, subindo dos rios, dos lagos, logo após o raiar do dia no final da primavera. São também as neblinas vaporosas que sobem das cachoeiras, das Cataratas.

Em um segundo plano, a Neblina é representada pela fumaça – especialmente a fumaça do cachimbo sagrado usado para curar doenças e que simboliza a união entre diferentes dimensões. Em um terceiro plano, a Neblina é energia sutil, leve que está no ar e que pode ser respirada, inspirada, conspirada. É o “Ki” ou “Chi” do budismo. É o “Prana” hindu. É o “Qudra” dos sufis. Em um quarto plano é aquela energia que inspira a consciência e que leva à transformação. Em um quinto plano é a energia que leva à transcendência. Em um sexto plano é a levíssima energia que abre o caminho para as visões especialmente a grande visão de um universo onde tudo é parte de tudo. Onde ninguém está isolado. É a visão do grande amor que tudo iluminava nos dias em que Nhamandú vivia na primitiva escuridão. Finalmente em um sétimo nível, as neblinas são as palavras inspiradas, a palavra criadora – aquela chuva criativa baseada na palavra que leva à liberação. Ao nirvana. Ás boas palavras, das visões, dos sonhos que criam e transformam.


Já os Tupãs receberam responsabilidades enormes. Nhamandú entregou-lhes o trovão, o extenso mar, suas ramificações, e aquilo que refresca. Tupã é a entidade controladora da chuva. Quando chove, no meio de relâmpagos e trovões, Tupã controla tudo e deixa cair a chuva copiosamente para refrescar a terra, e seus filhos, todos os animais e plantas que vivem sobre ela. Quando chove, não é só água que cai. A chuva que refresca também é um símbolo espiritual da temperança.

A temperança é um dos presentes de Tupã. Se não fosse a temperança, as pessoas brigariam e se matariam. Por isso quando a chuva cai, ela é ela mesma, a chuva. Mas no sentido espiritual ela significa a leveza de coração que todas as religiões tentam pedir que as pessoas tenham. A Bíblia chama de temperança, longanimidade, mansidão. Os índios em sua linguagem secreta e espiritual a chama de “aquilo que refresca” – e que o bom entendedor entenda.

Tupã é, entre as divindades de Nhamandú, a que parece ter o maior número de tarefas. Além de ser o regente das águas e da chuva, ele é também o protetor, o regente, o administrador do grande mar.
As nações guaranis conheciam e conhecem o mar desde antes da chegada dos portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e os negros – trazidos como escravos. Até hoje, são várias as aldeias guaranis no litoral brasileiro – no estado do Paraná, em Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Tudo dentro da administração de Tupã. Tupã ou os Tupãs são também os guardiões das inúmeras ramificações do mar.

E o que são as ramificações do mar? São os rios, os riachos, os riachuelos, os igarás, os igarapés, os igapós, os cursos d’água tanto grandes como pequenos que cortam, não só o território onde viveram ou vivem os filhos guaranis de Nhamandú, mas todos os rios do Planeta.

A Fonte da Neblina Criativa, popularmente conhecida como as Cataratas do Iguaçu, estão sob a regência de Tupã. O rio que cai na fenda da terra. A água que despenca sobre o nada, as nuvens que se formam da Neblina, a chuva que retorna à Terra, o arco-íris, todos os rios que nascem nos dois lados do rio Iguaçu – tudo é administrado por Tupã Ru (pai Tupã), por Tupã Cy (Mãe Tupã). Na Fonte da Neblina Criativa o peregrino está nas mãos de Tupã. Dizemos peregrinos e não turistas. Pois turista é uma palavra daquelas em que não há mais vida. Esta é uma lembrança – a primeira lembrança que se pode ter na Terra das Muitas Águas de Nhamandú.

Com sorte o Neblineiro, o buscador da boa lembrança chegará à Fonte da Neblina Criativa durante uma tempestade com chuva, trovão, neblina, raios e trovões. Aí acontece o encontro perfeito. Estão trabalhando Tupã, Karaí e Jakairá. Sob a direção de Nhamandú de Coração Grande que por sua vez opera sob direção amorosa de Nhamandú Guaçu – a suprema consciência. A vontade de Nhamandú está se realizando: as águas que correm no cânion, as águas que caem de cima, o crepitar da chama, a Neblina, a temperança, a bondade. No mundo holístico guarani a fronteira entre o real e o não real não é muito bem definida. A bondade, o amor, a temperança também caem do céu assim como a chuva. É sua tarefa saber se banhar nas chuvas de amor, na Neblina da sabedoria e na tempestade trovejante da temperança.

As Cataratas do Iguaçu são um Lugar Sagrado de Paz e Poder. É sagrado porque, como vimos, é um lugar sem fronteira, uma ponte entre o mundo dos fenômenos perfeitamente explicados pela ciência redutora e o mundo sutil onde nada é o que parece ser. Visão que, como veremos mais tarde, está sendo adotada pela nova ciência que começou a ver que em tudo há níveis diferentes e tudo depende de como as coisas são olhadas. É também um Lugar de Paz em todos os sentidos. Paz não é simplesmente a ausência de guerra. Paz é, como o amor, um estado de consciência. Um estado onde se compreende tudo. A Paz é simbolizada pela Neblina que refresca do corpo físico ao mais sutil dos planos. Pela Chuva que dá temperança. Pelo trovão que vem do fogo e queima as imensas limitações da vida criadas pela nossa própria civilização. Na Fonte da Neblina, o Neblineiro tem que se molhar com água, garoa, neblina, amor, paz e temperança.

Mas por que as Cataratas Sagradas e os outros Lugares Sagrados são Lugares de Poder? Não se trata do poder político. Do poder militar. Do poder financeiro. A ilusão destes poderes se encontra em Brasília, Buenos Aires, Washington, nas capitais provinciais, departamentais e estaduais dos países do mundo. Se encontra nos depósitos militares, nas 28.000 ogivas nucleares intactas que os Estados Unidos da América e a Federação Russa possuem. Se encontra nas bolsas de valores e centros financeiros. Se encontra também nas inter-relações destes poderes.

O Poder que se encontra nos Lugares Sagrados é o poder pessoal que nos libera das mentiras e ideologias que não são partes originárias de nós, como indivíduos, em quem há a chama da “consciência da divindade” infundida por Nhamandu. As qualidades fundamentais da vida, todos portamos dentro de nós. São a harmonia, a sabedoria, o poder, o amor, a eternidade e a infinidade. Somos harmônicos, sábios, poderosos, amorosos, eternos e infinitos.

Muito longe dos ambientes místicos, o comunicólogo brasileiro Leão Serva disse sobre a metralhadora de palavras que nos bombardeia diariamente: “Ao contrário do que dizia Francis Bacon, o excesso de informação, é hoje causa de perda do poder individual”. É deste poder que estamos falando.

O Lugar de Paz e Poder representa estas qualidades onipotentes. Harmonia é paz, equilíbrio interno e externo. Sabedoria é uma palavra muito interessante – no sentido de conduzirmos nosso interesse para o seu verdadeiro significado. “Sabedoria” vem da mesma raiz que a palavra “sabor”. Saber no sentido de saborear. Não é do uso corrente do português perguntar: a que sabe este sorvete? Mas está correto. Em vez disso perguntamos: “Este sorvete tem gosto de quê? Ou de que sabor é este sorvete? O sábio não é aquele que acumulou muito conhecimento. Sábio é aquele que saboreou ou saboreia o universo e dele aprende através de todos os sentidos. O sábio saboreador experimenta de tudo. Já a palavra sábio em guarani é “Arandu”. “Ara” é o universo e “ndu” é a raiz do verbo escutar. Assim para o guarani, sábio é aquele que escuta o universo. Esta sabedoria está nos Lugares Sagrados. Abramos então nossos ouvidos para escutar o universo.

Estão nos Lugares Sagrados também o amor e o poder, a eternidade e a nossa infinidade. Tudo como estados dinâmicos de consciência. Esse grande poder e as outras qualidades onipotentes, que são nossos por direito, não interessa ao gigantesco sistema sócio-econômico-cultural que criamos, artificialmente. Reduzir-nos a ossos que caminham, sem vida, é a grande meta deste sistema. Na visão guarani isso já aconteceu. Estamos reduzidos a ossos que caminham. Mas os guaranis têm uma profecia que diz que em alguma interconexão dos tempos, a consciência divina irá, de novo, ser infundida nesses ossos vítimas da cultura generalizada e destrutiva. Então tudo ressurgirá. Tudo será visto como deveria ser. Pessoas conscientes de serem parte de algo grande, enorme, sem limite. Em vez de sermos ossos que andam e dirigem carros e geram superávits, nos veremos como mini-universos, reflexos do universo onde nada nos é estranho.

Capítulo Quatro

Assim na Terra como nos Céus


Foi-me dado contemplar
o brilho maravilhoso da roda...

Em sua onisciência e onipotência,
a Divindade
é igual a uma roda,
um círculo,
um todo,

que não pode nem ser entendido,
nem dividido,
não tendo princípio nem fim.

- Hildegarda de Bingen (mística católica. 1098 –1179)



(É verdade, sem engano, certo e muito verdadeiro:
O que está embaixo é como o que está em cima
e o que está em cima é como o que está embaixo;
por tais coisas se fazem os milagres de uma coisa só.
– Tábua Esmeraldina – Hermes Trimegisto)



Já mencionamos, logo no início, que existe uma visão mecânica de universo. Nesta visão por exemplo, o universo funciona como um relógio. Mencionamos também a outra visão, que é aquela que inspira a este livro: o universo não funciona como uma máquina. A terra, em vez de ser vista como um planeta sobre o qual existe vida, é vista como um planeta vivo. Em vez de pensarmos em vida na terra, pensamos em vida da terra. Que dizer, nós somos parte da terra e do universo. Nós somos parte da vida dela. A terra então é um organismo vivo.

Esta visão, reconhece que os princípios universais são os mesmos em todo o universo. Os átomos de nossas células giram em torno de um núcleo, da mesma forma que a terra gira em torno do sol. E o sol, por sua vez, gira em torno do centro da galáxia. Do extremamente grande ao extremamente pequeno o princípio é o mesmo. Um desses princípios é o conceito de chacra. Palavra do idioma sânscrito que ao pé da letra quer dizer “roda” que funciona como uma espiral. E essas “rodas” que giram, potenciam energia. São centros energéticos.
O corpo humano tem sete destes redemoinhos de energia. Tudo o que existe, desde um corpo até a galáxia possui chacras; possui estes centros de energia. Segundo a filosofia tântrica, “as sete camadas de energia cósmica se refletem nesses sete centros de energia do corpo”, do planeta ou do universo. Por fim, os chacras são centros de energia responsáveis pelos diferentes níveis de consciência. E tais centros de energia têm equivalência fisiológica ou, em outras palavras, são refletidos em áreas específicas do corpo físico.

Nesta linha de pensamento o universo e nós funcionamos da mesma maneira. O corpo humano tem sete chacras principais. Isso é afirmado pelos hindus, budistas, sufis, espíritas, muitos cristãos, estudantes da consciência e diversas tribos de “índios” brasileiros e pan-americanos que, de maneira similar, também atribuem a estes centros de poder certos sons e cores. Além dos sete chacras principais, o corpo humano tem ainda 107 “marmas” ou pontos energéticos menores que se encontram em locais onde diferentes formas de energia ou diferentes tecidos constituintes do corpo se encontram, se entrelaçam.

O propósito deste capítulo é apresentar os sete chacras do corpo humano como uma preparação para que no próximo capítulo, abordemos os sete chacras da Terra. Lembrando também que assim como o corpo tem ainda os pontos energéticos chamados de marmas a Terra também os possui. Porém advertimos que esses números são tão somente o início do estudo dos pontos energéticos do universo – quer seja da Terra ou do universo em miniatura que é o seu corpo. A esses pontos energéticos ainda se pode acrescentar os canais de energia vital que são aqueles, no caso do corpo, que levam a energia vital da base da coluna ao topo da cabeça. Três desses canais podem ser facilmente identificados. São os canais de energia sutil que têm correspondência direta com os canais de respiração. Salvo alguma anormalidade ou doença, todos nós temos narizes e cada nariz tem duas narinas. Por que temos duas narinas?

Segundo o ayurveda, o yoga e o tantra, cada lado do nariz representa um canal de energia vital. A narina direita transporta energia vital para o lado esquerdo do cérebro. A energia vital é conhecida pelo nome de “Prana” e, segundo a maneira de uma pessoa respirar, no ar respirado pelo nariz, está presente o prana. Já a narina esquerda é um canal para o lado direito do cérebro. A respiração pela narina esquerda se chama respiração lunar. É uma respiração feminina, ligada à intuição, ao coração. A respiração pela narina direita se chama respiração solar e é masculina. Está ligada à razão, ao raciocínio lógico.

O canal associado à narina esquerda se chama “Ida”. E o canal associado à narina direita se chama “Pigala”. O terceiro canal de energia sutil passa pelo meio da testa, entre os olhos, atravessa o chacra conhecido como o “terceiro olho” e vai até o chacra coronário, no topo da cabeça. Podemos acessar este canal de energia sutil quando respiramos simultaneamente com as duas narinas, elevando a energia para o “terceiro olho”. Neste ponto, o leitor pode fazer uma pequena experiência. Toque suavemente o seu nariz, fechando um lado dele para descobrir, neste exato momento, que narina ou canal está funcionando. Está funcionando Ida ou Pigala? Se estiverem funcionando os dois, o canal que está sendo utilizado se chama “Sushuma”. Os canais como o Ida, o Pigala e o Sushuma são conhecidos como “nadi”. No seu corpo há, pelo menos, 70 mil nadis diferentes.


A Terra tem tudo isso também. Da mesma maneira que nós, o Planeta tem os chacras principais, os marmas, os canais energéticos (nadis), os meridianos e milhares de outros pontos que trabalham com diferentes espécies de energia. Se fala até de uma grade energética planetária que abordaremos, de leve, adiante. Há milhares de anos a humanidade tem escolhido alguns lugares específicos como “sagrados”. A maioria deles considerados como chacras, lugares sagrados ou pontos energéticos da Terra. São milhares deles espalhados por todos os continentes e ilhas do Planeta. São montanhas sagradas, rios, lagos, ilhas, fontes, pedras, árvores, florestas, lugares de cerimônia, gêiseres, vulcões. Todos lugares de grande beleza visual e onde se pode sentir uma manifestação das antiqüíssimas energias da Terra, do Universo. Nesses lugares se encontram quantidades grandes de energia terrestre vindo de fatores como magnetismo, radioatividade, concentração de minérios, grandes quantidades de água de superfície e a presença de água subterrânea. Todos fatores geradores de energia telúrica, energia da terra e do universo. Poderíamos dizer que os milhares de lugares sagrados da Terra são seus “marmas” e “nadis”. Infelizmente sabemos tão pouco sobre a realidade fisiológica da Terra assim como a maioria de nós sabe tão pouco sobre nossos corpos.


Neste modelo onde tudo está unificado, um planeta, um corpo humano ou uma galáxia todos têm chacras. Tanto a Terra como o corpo humano, possuem sete chacras principais. É a verdadeira realização do “assim na Terra como no Céu” de Jesus Cristo, ou da visão da mística católica Hildegarda de Bingen de que a divindade é um círculo ou ainda de Hermes Trismegistus de que tudo aqui embaixo é exatamente igual ao que está em cima.

Tudo no céu, na terra, na galáxia, no universo tem o mesmo princípio básico – têm centros de força, que, mantêm as coisas em funcionamento. O corpo em um dado momento começou de um pequeno ponto, e a partir deste ponto, como que girando em espiral, de dentro para fora, foi sabiamente tecido. A mesma coisa acontece com os planetas, com a Terra.
Mas antes de falarmos sobre os chacras da Terra, façamos uma descrição rápida dos sete chacras principais que são refletidos em nosso corpo. Adotamos os nomes em idioma sânscrito por uma questão de ter de escolher uma língua e uma linha de pensamento. Mas há centenas de outras maneiras de chamá-los.




Figura 1. Os sete chacras no corpo humano. Em forma ascendente da base da coluna até o topo da cabeça.

Muladhara – Esta palavra significa, “raiz de apoio”. Este centro também recebe os nomes de chacra básico, primeiro chacra, ou chacra raiz. Ele está situado na base da coluna, e é considerado o chacra de apoio do corpo. Está associado com o funcionamento do intestino grosso, dos pés, pernas. Está ligado ao elemento terra e à cor vermelha. Neste chacra se encontra a força criativa do cosmo – conhecida como Kundalini, representada como uma serpente enroscada numa espiral de três voltas e meia. Na filosofia tântrica despertar a Kundalini significa despertar para a espiritualidade. Na área dos desafios e dons humanos, o Muladhara trabalha o sentir-se seguro no plano físico e a satisfação das necessidades básicas.

Em um plano mais elevado, trata do sentimento do estar bem cuidado, bem nutrido e do desejo de pertencer ao todo. No que se refere às relações primárias, está aberto para as relações da realidade física, à Terra, às forças naturais, ao corpo, e às sensações. O arquétipo ou princípio deste chacra é a consciência física. Quando equilibrado, simboliza a Boa Mãe, que nutre, apóia, dá. Quando desajustado tendendo para o excesso, faz prevalecer o lado ganancioso da pessoa. Quando seu funcionamento é deficitário faz prevalecer o sentimento de vítima.


Svadisthana – Morada do si-mesmo ou morada da força vital. Chamado de segundo chacra, umbílico-chacra, chacra sacral, está localizado abaixo do umbigo. No plano corporal, o Svadhistana está associado com os órgãos genitais, a reprodução, e à bexiga. O elemento dele é a água. A cor dele é o laranja. No plano dos desafios e possibilidades humanos, aqui se trabalha a capacidade de ligar-se e conectar-se com outros sem perder a individualidade. Em um plano mais elevado, cuida da expansão, da criação sem esforço. No que se refere às relações primárias, está aberto a outros seres humanos, emoções, corpo emocional, criança interior, homem ou mulher selvagem. O arquétipo deste chacra é a reprodução criativa da essência. O Svadhistana equilibrado é fonte do prazer. Quando desequilibrado, tendendo para o excesso, faz destacar a volúpia. Quando seu funcionamento é deficitário, o sentimento que dele se destaca é o de mártir.


Manipura – Brilhar como jóia. Chacra do plexo solar. Está ligado à digestão, e num sentido amplo, à assimilação. No corpo, está associado ao intestino delgado, rins, pâncreas e fígado. Os elementos deste chacra são o fogo e a água. Na visão ayurvédica, o fogo está presente em nosso corpo e especialmente no estômago. O que garante a energia de processos vitais materiais e físicos entre eles a digestão. Quanto à água, vale lembrar que ela é a principal constituinte de nosso corpo e do Planeta. A cor do Manipura é o amarelo dourado.

Na área dos desafios pessoais, este chacra nos ajuda na conexão com nossa fonte interna de poder e energia. Num plano mais elevado, o desejo deste chacra é transmutar as energias das emoções. Transmutar emoções em paixão pela vida. Transformar medo em amor. Ira em ação. Tristeza em entrega e felicidade. A relação primária neste chacra é com a alma e o corpo emocional. A partir do chacra do plexo solar as energias mais densas começam a refinar-se. O arquétipo do Manipura é a realização criativa da essência. Quando o Manipura funciona de maneira equilibrada, sentimos presente em nós o espírito do guerreiro – um poderoso arquétipo em toda a humanidade. Se o Manipura funciona em excesso ou em velocidades maiores do que a necessária para o equilíbrio, nos tornamos dominadores. Pelo contrário, se funciona em velocidade e ritmo defasados, nos sentimos e nos tornamos submissos.




Anahata – Sem som. O chacra cardíaco ou chacra do coração. Está associado, no corpo humano, ao funcionamento do coração, mãos, braços, e ao timo. O elemento associado a este chacra é o ar. As cores do coração são o verde, cor-de-rosa e rosa. O desafio humano associado ao chacra cardíaco é a abertura de nossos corações para a vibração desinteressada e sem restrições do amor universal. O desejo da alma refletido no chacra do coração é o de experimentar a unidade, devoção, reverência pela vida. O Anahata tem uma relação primária com os poderes espirituais mais elevados, com a pulsação que nos conecta com universo. A imagem arquetípica dele é o de abandono à essência. Em funcionamento equilibrado, deixa que se revele em nós o altruísta. Mas se estiver funcionando muito rápido, muito forçado ou de modo excessivo, temos tendência a nos tornar conquistadores. Quando seu funcionamento está abaixo de suas capacidades, a pessoa é vítima de um sentimento de solidão. Fica revelado o solitário em nós.


Vishudda – Purificado. Chacra laríngeo. Localiza-se na região da garganta e está ligado ao poder feminino da criação; está associado ao som e à escuta, fala e silêncio, inalar e exalar e ao divino metabolismo Shiva e Shakti. É o chacra onde se trabalha o equilíbrio. No corpo, tem associação com a garganta, ouvidos, tiróide e paratiróide. O éter é o elemento deste chacra. A cor é o azul. O desafio humano associado a este chacra é o de poder expressar, sem medo, as nossa verdades e escutar o som do universo. O desejo da alma associado ao Vishudda é o de ser ouvida, transmitir e receber a verdade. A relação primária do Vishudda é com nossa conexão vibracional com toda a existência. O arquétipo deste chacra é a ressonância com a essência. Quando equilibrado revela o comunicador em nós. Funcionado desequilibradamente com tendência ao excesso revela o tagarela em nós. Quando o contrário acontece, fica revelada a tímidez.

Ajna – O comando de cima. Também chamado de terceiro olho. Ou o comando. Localizado entre as sobrancelhas está associado, no corpo, com a glândula pituitária, com os olhos, os ouvidos e o cérebro. O Ajna está associado à luz, como elemento e está também além dos elementos. As cores de Ajna são o purpúreo e o índigo. Ajna é a ponte entre a mente superior e a inferior, o ponto de encontro dos três principais canais da energia chamada kundalini. É mais popularmente conhecido como o terceiro olho. O desafio humano no nível de Ajna é sair da mentalidade dualística para uma mentalidade intuitiva neutra e natural. O desejo da alma, no nível deste chacra é focar a mente onde a claridade mental e a paz sejam automaticamente alcançadas. A relação primária deste chacra é com o conhecimento interior cósmico. Seu arquétipo é a visão clara da essência. Quando Ajna funciona de maneira equilibrada, revela-se em nós o intuitivo. Quando desequilibrado funcionando com tendência ao excesso nos tornamos excessivamente intelectuais. Contudo quando seu funcionamento é deficitário, revela-se em nós, o ignorante.


Sahashrara – Lótus de mil pétalas. Chacra coronário. Está localizado no alto da cabeça. Chamado de mil pétalas representa o desabrochar do corpo sutil. É através deste chacra que se dá a união com um universo. E isso até de modo literal. Quando andamos pelas ruas, o topo da cabeça aponta para o universo e com ele troca energia. Os nossos pés estão na terra, conectados à energia terrestre. Assim fazemos a ligação entre a terra e o universo. O Sahashrara está associado, no corpo físico, com a glândula pineal e o córtex cerebral, com a consciência e além dos elementos. As cores do Lótus de Mil Pétalas é o branco, a cor prata e à qualidade da luminosidade. O desafio humano do Sahashrara é o ligar-se e render-se à consciência divina – ou como diz o Hino Guarani, à consciência de sua divindade. O desejo da alma deste chacra é o de conexão e utilização de energias infinitas, de conhecer o desconhecido, experimentar o sentido transcendental da vida. O arquétipo do Sahashrara é a essência. Sahasrara equilibrado significa ser mestre. Funcionando em excesso, o desorientado. Abaixo do que devia, o arrogante.

Os chacras são muito importantes para o bom funcionamento do corpo, do espírito e da alma. O funcionamento de cada um deles tem influência sobre nossas vidas. Os chacras estão em nós, são parte esquecida de nós. Deste modo, e a esta altura, já começamos a desconfiar do motivo pelo qual o mundo tenha se transformado em um lugar desequilibrado. É normal sermos, de um lado, gananciosos, voluptuosos, dominadores, conquistadores, tagarelas, intelectuais e desorientados. Do outro lado, vítimas, mártires, submissos, solitários, tímidos, ignorantes e arrogantes. Isso pode ser dito de uma pessoa ou de um país. O diagnóstico é fácil: catástrofe generalizada de chacras desequilibrados.

Agora que já vimos que todos temos chacras e que eles são de muita importância, façamos uma viagem pelos chacras da Terra e não esqueçamos que o modelo é o mesmo. Será que os chacras da Terra também estão bloqueados? Estarão esses arquétipos também afetando a Terra?

Capitulo Cinco


Este vídeo (em inglês) lhe ajudará a ver os sete chakras principais da Terra como mostrado neste espaço
Capítulo Cinco
Os Chakras da Terra


“Certas áreas da terra são mais sagradas do que outras,
algumas por causa de sua situação, outras por suas águas cintilantes,
e outras por causa da associação ou habitação de santos.” – Mahabharata
(Literatura hindu)


“Em todas estas qualidades tais lugares se excedem
em que há uma divina inspiração, e na qual os deuses têm
suas moradas e são propícios para os que neles moram”.
– Platão

“Não tenho dúvida que as Cataratas do Iguaçu são sagradas e que seu moradores merecem o respeito de todo o Planeta por isso”. Martin Gray (Antropólogo norte-americano)



A Terra, como uma entidade viva, orgânica, auto-reguladora e auto-regulada também tem sete chacras principais. São Lugares de Paz e Poder. São vistos como poderosos vórtices de energia planetária e universal. Vórtice segundo o dicionário “é um movimento forte e giratório, um redemoinho, turbilhão e voragem. É também a disposição concêntrica e raiada de certos órgãos. Em física, é um movimento intenso de forma espiralada numa região limitada de um fluído. Na visão do planeta como um organismo vivo, estes Lugares de Poder são turbilhões ou redemoinhos de energia. O fluído em questão é a energia cósmica. Assim como no corpo humano existe os sete chacras principais que vimos no capítulo anterior, a terra também os têm. Eles têm a mesma função e podem ser correlacionados. Um chacra da Terra representa a este ou aquele chacra do corpo humano.

As tradições esotéricas do planeta listaram sete pontos de Gaia ou da Terra como chacras planetários. Por esotérico, aqui nos referimos simplesmente ao sentido exato da palavra. Algo que é direcionado e entendido para um grupo particular de pessoas. Algo confidencial e não destinado ao “grande público”. São pequenos grupos de pessoas espalhados por todo o mundo e que formam hoje uma grande cadeia.

Algumas coisas podem ser consideradas como comuns a todos os sete Lugares Sagrados que aparecem mais abaixo. São Lugares cuja consagração é milenar; estão associados ao reconhecimento dado a elas por tradições locais, por grandes religiões e pelas populações nativas desses Lugares. Vejamos os sete Lugares Sagrados considerados com redemoinhos ou turbilhões de energia que servem como Chacras do Planeta e em seguida, a partir do próximo capítulo, façamos uma viagem por eles.


Os sete Chacras do Planeta

1.Monte Shasta
2.Lago Titicaca
3.Uluro Kattjuta
4.Glastonbury / Saftsbury
5.Grande Pirâmide
6.Kuh-e-Malek Siah
7.Monte Kailash

Nos próximos sete capítulos, faremos uma breve apresentação destes chacras principais do Planeta.

Capítulo Seis


(Este vídeo, com multiplas legendas, fala do Monte Shasta, alvo deste capitulo)

Capítulo Seis

O Sublime Monte Shasta

O Monte Shasta, uma bela montanha, um vulcão em descanso, no norte da Califórnia, é um lugar de extrema beleza. Imaginemos a terra como o nosso corpo. O Monte Shasta é o chacra básico – o Muladhara do Planeta. Similarmente ao seu equivalente no nosso corpo, ele é a fonte do poder básico. É um vórtice de força, um redemoinho que faz girar a energia básica do Planeta e a envia para os outros chacras para fazer funcionar os outros processos de evolução em níveis cada vez mais sublimes.

Ao pé do vulcão fica a cidade de Monte Shasta – a mais conhecida de uma região para onde vão, todos os anos, milhares de pessoas em busca de conhecimento, experiências e encontros. Para diversos grupos, o Monte Shasta é o principal ponto de irradiação do Mestre São Germain – um dos sete seres de luz que pertencem à hierarquia dos sete mestres ascendidos. Acredita-se que as geleiras da montanha são, na realidade, portais para outras dimensões onde há uma cidade habitada por seres adiantados – uma cidade chamada Telos. Uma crença que se repete como veremos mais adiante inclusive em referência às Cataratas do Iguaçu.

Milhares de anos antes da colonização, o Monte Shasta já era considerado sagrado para os primeiros habitantes da região: os Shastas, os Achumawis, os Atsugewis, os Wintus, e os Modocs. Todos esses povos e suas derivações habitavam os territórios que tocavam e eram influenciados pelo Monte Shasta. Hoje ainda restam descendentes. Floyd Buckskin, um chefe Achumawi, é um deles. Ele explica por que o Monte Shasta é sagrado para os povos nativos:

“Esta montanha é sagrada do mesmo modo que todas as coisas criadas pelo criador são sagradas. O Monte Shasta sozinho não pode curar mas o espírito ativo do criador através do Monte Shasta pode. Protegemos o Monte Shasta porque é nossa responsabilidade. Meu povo tem estado aqui por milhares de anos. Uma de nossas antigas profecias diz como nós cuidamos deste lugar. A profecia diz que quando as neves do Monte Shasta desaparecerem, nós desapareceremos também. A profecia diz que quando a neve desaparecer, as coisas cairão sobre o seu povo, sobre a terra, e sua sobrevivência será muito difícil. Cuidamos de nossos lugares sagrados, montanhas, riachos, lagos animais. Nós não somos donos deles. O dono é o criador. Ele nos deu para usar, respeitar e cuidar até que ele venha pegar de volta. Para o povo nativo o que significa o Monte Shasta? Significa a nossa cultura, nossa maneira de vida, nossa religião, nossos símbolos. E estas coisas são para a nossa instrução e entendimento”.

O Monte Shasta faz circular toda esta energia para o Lago Titicaca que, por sua parte a faz circular para os outros chacras até chegar ao topo da cabeça do Mundo – o Monte Kailash no Tibete. Há lendas antigas que falam de colônias de seres sobreviventes da Lemúria tanto no lago Titicaca como no Monte Shasta. O Monte Shasta é considerado ainda como uma das sete montanhas misteriosas que incluem o Monte Ararat, na Turquia; Monte Whitney na Serra Nevada; o Grand Teton, parte das Montanhas Rochosas em Wyoming e Idaho (EUA); o Monte Meru, o Monte Ruvengari na Africa, o Monte Shegatsee (Everest) e o Montserrat na Espanha. O leitor pode acrescentar estas importantes montanhas misteriosas à lista dos chacras auxiliares do Planeta.

Devemos lembrar aqui que o Monte Ararat é a montanha onde a Arca de Noé pousou, segundo o relato bíblico, aceito pelas tradições judaicas, cristãs e islâmicas. O Monte Meru é um monte de existência quase irreal. É um Monte simbólico. Mas existem vários picos chamados Meru – um deles na África. E o Monte Kailash é considerado o Meru das tradições hindus.

Capítulo Sete

Titicaca – o umbigo do Mundo



O Lago Titicaca, entre a Bolívia e o Peru é o Chacra umbilical do Planeta. É o Svaddhistana. O chacra do umbigo, a morada-do-si-mesmo de Gaia. Aí vemos a sabedoria dos incas quando chamaram a sua capital de Cuzco – que significa “umbigo” no idioma Quíchua. Todos nós temos uma relação impressionante com o umbigo. Fomos alimentados através do cordão umbilical até nosso nascimento. E aqui nascimento significa nossa transferência de nosso primeiro meio ambiente ou o entorno uterino para o ambiente de Gaia.

O Lago Titicaca, como todos os lugares sagrados possuem alguma coisa de misteriosa. As lendas, os mitos passados de geração em geração, contam da existência de uma cidade no fundo do Lago. Paititi é o nome desta cidade de cristal eterna e etérea. As lendas contam também que Paititi vai ressurgir no final desta Pachakuti. Pachakuti é uma medida de tempo inca que equivale à metade de um inti. Um Inti – que também significa sol – dura mil anos. Assim uma Pachakuti representa 500 anos.

Nós estamos entrando, ou para entrar, na décima Pachakuti que é a época em que tudo deve ressurgir. Durante os 500 anos do oitavo Pachakuti – conta a tradição, reinou Pachacuteq, o grande líder espiritual inca que construiu Machu Picchu. Foi um período de muita luz. O império expandiu e houve tranqüilidade. Mas no nono Pachakuti, veio a tristeza na forma de espanhóis e com eles um lado muito escuro para a existência humana. As palavras de ordem da nona Pacahkuti foram e são dominação, extermínio, exploração, escravidão, destruição, exclusão e outros males que todos conhecemos.

Por ser o Cuzco (umbigo) do mundo, as populações do Lago Titicaca consideram-se o povo mais velho do Planeta. E consideram o seu lago como o Ventre da Terra. Foi do Titicaca que saíram os pais-sem-umbigo. Ser “sem umbigo” na linguagem dos nativos de todo o mundo significa não ter nascido. Para os guaranis, sem umbigo foram os quatro casais que deram origem à raça humana. Para os incas os sem umbigo foram o casal M'anko Qapak e Mama Oqllo – que saíram do fundo do Lago Titicaca para dar origem aos incas.

Porém o Lago Titicaca não esgota os Lugares Sagrados venerados na região. No Lago estão a Ilha do Sol, a Ilha da Lua e nele, ou na redondeza, ainda encontramos antigas e elaboradas construções pré-incas como Tiwanaku, a Porta do Sol, Kalasasaya, a Pirâmide de Akapana, Putuni, as pirâmides de Puma Punku, Suriqui e Kalahuta. Todas, parte de um cordão imensos de lugares sagrados ou chacras auxiliares que se irradiam para a Argentina, Chile e o Peru, na região de Machu Picchu, do Vale Sagrado dos Incas e além. Toda a costa peruana está pontilhada de lugares sagrados de várias outras culturas. A corrente segue pelo Equador, Colômbia – onde estão as ruínas de Tierradentro, outros lagos sagrados, até as ruínas de uma “Cidade Pedida” aos pés da Serra Nevada de Santa Marta, no Caribe – terra dos índios Koguis. Este um belo encontro de um pico nevado com o mar azul. A cruel ocupação da civilização européia não conseguiu acabar com a espiritualidade ligada à Pachamama (Mãe Terra) que desde o Titicaca continua irradiando em todas as direções, como este livro vem ser uma prova.