terça-feira, janeiro 02, 2007

Capítulo Quatro - Assim na Terra como nos Céus

Assim na Terra como nos Céus


Foi-me dado contemplar
o brilho maravilhoso da roda...

Em sua onisciência e onipotência,
a Divindade
é igual a uma roda,
um círculo,
um todo,

que não pode nem ser entendido,
nem dividido,
não tendo princípio nem fim.

- Hildegarda de Bingen (mística católica. 1098 –1179)



(É verdade, sem engano, certo e muito verdadeiro:
O que está embaixo é como o que está em cima
e o que está em cima é como o que está embaixo;
por tais coisas se fazem os milagres de uma coisa só.
– Tábua Esmeraldina – Hermes Trimegisto)



Já mencionamos, logo no início, que existe uma visão mecânica de universo. Nesta visão por exemplo, o universo funciona como um relógio. Mencionamos também a outra visão, que é aquela que inspira a este livro: o universo não funciona como uma máquina. A terra, em vez de ser vista como um planeta sobre o qual existe vida, é vista como um planeta vivo. Em vez de pensarmos em vida na terra, pensamos em vida da terra. Que dizer, nós somos parte da terra e do universo. Nós somos parte da vida dela. A terra então é um organismo vivo.

Esta visão, reconhece que os princípios universais são os mesmos em todo o universo. Os átomos de nossas células giram em torno de um núcleo, da mesma forma que a terra gira em torno do sol. E o sol, por sua vez, gira em torno do centro da galáxia. Do extremamente grande ao extremamente pequeno o princípio é o mesmo. Um desses princípios é o conceito de chacra. Palavra do idioma sânscrito que ao pé da letra quer dizer “roda” que funciona como uma espiral. E essas “rodas” que giram, potenciam energia. São centros energéticos.
O corpo humano tem sete destes redemoinhos de energia. Tudo o que existe, desde um corpo até a galáxia possui chacras; possui estes centros de energia. Segundo a filosofia tântrica, “as sete camadas de energia cósmica se refletem nesses sete centros de energia do corpo”, do planeta ou do universo. Por fim, os chacras são centros de energia responsáveis pelos diferentes níveis de consciência. E tais centros de energia têm equivalência fisiológica ou, em outras palavras, são refletidos em áreas específicas do corpo físico.

Nesta linha de pensamento o universo e nós funcionamos da mesma maneira. O corpo humano tem sete chacras principais. Isso é afirmado pelos hindus, budistas, sufis, espíritas, muitos cristãos, estudantes da consciência e diversas tribos de “índios” brasileiros e pan-americanos que, de maneira similar, também atribuem a estes centros de poder certos sons e cores. Além dos sete chacras principais, o corpo humano tem ainda 107 “marmas” ou pontos energéticos menores que se encontram em locais onde diferentes formas de energia ou diferentes tecidos constituintes do corpo se encontram, se entrelaçam.

O propósito deste capítulo é apresentar os sete chacras do corpo humano como uma preparação para que no próximo capítulo, abordemos os sete chacras da Terra. Lembrando também que assim como o corpo tem ainda os pontos energéticos chamados de marmas a Terra também os possui. Porém advertimos que esses números são tão somente o início do estudo dos pontos energéticos do universo – quer seja da Terra ou do universo em miniatura que é o seu corpo. A esses pontos energéticos ainda se pode acrescentar os canais de energia vital que são aqueles, no caso do corpo, que levam a energia vital da base da coluna ao topo da cabeça. Três desses canais podem ser facilmente identificados. São os canais de energia sutil que têm correspondência direta com os canais de respiração. Salvo alguma anormalidade ou doença, todos nós temos narizes e cada nariz tem duas narinas. Por que temos duas narinas?

Segundo o ayurveda, o yoga e o tantra, cada lado do nariz representa um canal de energia vital. A narina direita transporta energia vital para o lado esquerdo do cérebro. A energia vital é conhecida pelo nome de “Prana” e, segundo a maneira de uma pessoa respirar, no ar respirado pelo nariz, está presente o prana. Já a narina esquerda é um canal para o lado direito do cérebro. A respiração pela narina esquerda se chama respiração lunar. É uma respiração feminina, ligada à intuição, ao coração. A respiração pela narina direita se chama respiração solar e é masculina. Está ligada à razão, ao raciocínio lógico.

O canal associado à narina esquerda se chama “Ida”. E o canal associado à narina direita se chama “Pigala”. O terceiro canal de energia sutil passa pelo meio da testa, entre os olhos, atravessa o chacra conhecido como o “terceiro olho” e vai até o chacra coronário, no topo da cabeça. Podemos acessar este canal de energia sutil quando respiramos simultaneamente com as duas narinas, elevando a energia para o “terceiro olho”. Neste ponto, o leitor pode fazer uma pequena experiência. Toque suavemente o seu nariz, fechando um lado dele para descobrir, neste exato momento, que narina ou canal está funcionando. Está funcionando Ida ou Pigala? Se estiverem funcionando os dois, o canal que está sendo utilizado se chama “Sushuma”. Os canais como o Ida, o Pigala e o Sushuma são conhecidos como “nadi”. No seu corpo há, pelo menos, 70 mil nadis diferentes.


A Terra tem tudo isso também. Da mesma maneira que nós, o Planeta tem os chacras principais, os marmas, os canais energéticos (nadis), os meridianos e milhares de outros pontos que trabalham com diferentes espécies de energia. Se fala até de uma grade energética planetária que abordaremos, de leve, adiante. Há milhares de anos a humanidade tem escolhido alguns lugares específicos como “sagrados”. A maioria deles considerados como chacras, lugares sagrados ou pontos energéticos da Terra. São milhares deles espalhados por todos os continentes e ilhas do Planeta. São montanhas sagradas, rios, lagos, ilhas, fontes, pedras, árvores, florestas, lugares de cerimônia, gêiseres, vulcões. Todos lugares de grande beleza visual e onde se pode sentir uma manifestação das antiqüíssimas energias da Terra, do Universo. Nesses lugares se encontram quantidades grandes de energia terrestre vindo de fatores como magnetismo, radioatividade, concentração de minérios, grandes quantidades de água de superfície e a presença de água subterrânea. Todos fatores geradores de energia telúrica, energia da terra e do universo. Poderíamos dizer que os milhares de lugares sagrados da Terra são seus “marmas” e “nadis”. Infelizmente sabemos tão pouco sobre a realidade fisiológica da Terra assim como a maioria de nós sabe tão pouco sobre nossos corpos.


Neste modelo onde tudo está unificado, um planeta, um corpo humano ou uma galáxia todos têm chacras. Tanto a Terra como o corpo humano, possuem sete chacras principais. É a verdadeira realização do “assim na Terra como no Céu” de Jesus Cristo, ou da visão da mística católica Hildegarda de Bingen de que a divindade é um círculo ou ainda de Hermes Trismegistus de que tudo aqui embaixo é exatamente igual ao que está em cima.

Tudo no céu, na terra, na galáxia, no universo tem o mesmo princípio básico – têm centros de força, que, mantêm as coisas em funcionamento. O corpo em um dado momento começou de um pequeno ponto, e a partir deste ponto, como que girando em espiral, de dentro para fora, foi sabiamente tecido. A mesma coisa acontece com os planetas, com a Terra.
Mas antes de falarmos sobre os chacras da Terra, façamos uma descrição rápida dos sete chacras principais que são refletidos em nosso corpo. Adotamos os nomes em idioma sânscrito por uma questão de ter de escolher uma língua e uma linha de pensamento. Mas há centenas de outras maneiras de chamá-los.




Figura 1. Os sete chacras no corpo humano. Em forma ascendente da base da coluna até o topo da cabeça.

Muladhara – Esta palavra significa, “raiz de apoio”. Este centro também recebe os nomes de chacra básico, primeiro chacra, ou chacra raiz. Ele está situado na base da coluna, e é considerado o chacra de apoio do corpo. Está associado com o funcionamento do intestino grosso, dos pés, pernas. Está ligado ao elemento terra e à cor vermelha. Neste chacra se encontra a força criativa do cosmo – conhecida como Kundalini, representada como uma serpente enroscada numa espiral de três voltas e meia. Na filosofia tântrica despertar a Kundalini significa despertar para a espiritualidade. Na área dos desafios e dons humanos, o Muladhara trabalha o sentir-se seguro no plano físico e a satisfação das necessidades básicas.

Em um plano mais elevado, trata do sentimento do estar bem cuidado, bem nutrido e do desejo de pertencer ao todo. No que se refere às relações primárias, está aberto para as relações da realidade física, à Terra, às forças naturais, ao corpo, e às sensações. O arquétipo ou princípio deste chacra é a consciência física. Quando equilibrado, simboliza a Boa Mãe, que nutre, apóia, dá. Quando desajustado tendendo para o excesso, faz prevalecer o lado ganancioso da pessoa. Quando seu funcionamento é deficitário faz prevalecer o sentimento de vítima.


Svadisthana – Morada do si-mesmo ou morada da força vital. Chamado de segundo chacra, umbílico-chacra, chacra sacral, está localizado abaixo do umbigo. No plano corporal, o Svadhistana está associado com os órgãos genitais, a reprodução, e à bexiga. O elemento dele é a água. A cor dele é o laranja. No plano dos desafios e possibilidades humanos, aqui se trabalha a capacidade de ligar-se e conectar-se com outros sem perder a individualidade. Em um plano mais elevado, cuida da expansão, da criação sem esforço. No que se refere às relações primárias, está aberto a outros seres humanos, emoções, corpo emocional, criança interior, homem ou mulher selvagem. O arquétipo deste chacra é a reprodução criativa da essência. O Svadhistana equilibrado é fonte do prazer. Quando desequilibrado, tendendo para o excesso, faz destacar a volúpia. Quando seu funcionamento é deficitário, o sentimento que dele se destaca é o de mártir.


Manipura – Brilhar como jóia. Chacra do plexo solar. Está ligado à digestão, e num sentido amplo, à assimilação. No corpo, está associado ao intestino delgado, rins, pâncreas e fígado. Os elementos deste chacra são o fogo e a água. Na visão ayurvédica, o fogo está presente em nosso corpo e especialmente no estômago. O que garante a energia de processos vitais materiais e físicos entre eles a digestão. Quanto à água, vale lembrar que ela é a principal constituinte de nosso corpo e do Planeta. A cor do Manipura é o amarelo dourado.

Na área dos desafios pessoais, este chacra nos ajuda na conexão com nossa fonte interna de poder e energia. Num plano mais elevado, o desejo deste chacra é transmutar as energias das emoções. Transmutar emoções em paixão pela vida. Transformar medo em amor. Ira em ação. Tristeza em entrega e felicidade. A relação primária neste chacra é com a alma e o corpo emocional. A partir do chacra do plexo solar as energias mais densas começam a refinar-se. O arquétipo do Manipura é a realização criativa da essência. Quando o Manipura funciona de maneira equilibrada, sentimos presente em nós o espírito do guerreiro – um poderoso arquétipo em toda a humanidade. Se o Manipura funciona em excesso ou em velocidades maiores do que a necessária para o equilíbrio, nos tornamos dominadores. Pelo contrário, se funciona em velocidade e ritmo defasados, nos sentimos e nos tornamos submissos.




Anahata – Sem som. O chacra cardíaco ou chacra do coração. Está associado, no corpo humano, ao funcionamento do coração, mãos, braços, e ao timo. O elemento associado a este chacra é o ar. As cores do coração são o verde, cor-de-rosa e rosa. O desafio humano associado ao chacra cardíaco é a abertura de nossos corações para a vibração desinteressada e sem restrições do amor universal. O desejo da alma refletido no chacra do coração é o de experimentar a unidade, devoção, reverência pela vida. O Anahata tem uma relação primária com os poderes espirituais mais elevados, com a pulsação que nos conecta com universo. A imagem arquetípica dele é o de abandono à essência. Em funcionamento equilibrado, deixa que se revele em nós o altruísta. Mas se estiver funcionando muito rápido, muito forçado ou de modo excessivo, temos tendência a nos tornar conquistadores. Quando seu funcionamento está abaixo de suas capacidades, a pessoa é vítima de um sentimento de solidão. Fica revelado o solitário em nós.


Vishudda – Purificado. Chacra laríngeo. Localiza-se na região da garganta e está ligado ao poder feminino da criação; está associado ao som e à escuta, fala e silêncio, inalar e exalar e ao divino metabolismo Shiva e Shakti. É o chacra onde se trabalha o equilíbrio. No corpo, tem associação com a garganta, ouvidos, tiróide e paratiróide. O éter é o elemento deste chacra. A cor é o azul. O desafio humano associado a este chacra é o de poder expressar, sem medo, as nossa verdades e escutar o som do universo. O desejo da alma associado ao Vishudda é o de ser ouvida, transmitir e receber a verdade. A relação primária do Vishudda é com nossa conexão vibracional com toda a existência. O arquétipo deste chacra é a ressonância com a essência. Quando equilibrado revela o comunicador em nós. Funcionado desequilibradamente com tendência ao excesso revela o tagarela em nós. Quando o contrário acontece, fica revelada a tímidez.

Ajna – O comando de cima. Também chamado de terceiro olho. Ou o comando. Localizado entre as sobrancelhas está associado, no corpo, com a glândula pituitária, com os olhos, os ouvidos e o cérebro. O Ajna está associado à luz, como elemento e está também além dos elementos. As cores de Ajna são o purpúreo e o índigo. Ajna é a ponte entre a mente superior e a inferior, o ponto de encontro dos três principais canais da energia chamada kundalini. É mais popularmente conhecido como o terceiro olho. O desafio humano no nível de Ajna é sair da mentalidade dualística para uma mentalidade intuitiva neutra e natural. O desejo da alma, no nível deste chacra é focar a mente onde a claridade mental e a paz sejam automaticamente alcançadas. A relação primária deste chacra é com o conhecimento interior cósmico. Seu arquétipo é a visão clara da essência. Quando Ajna funciona de maneira equilibrada, revela-se em nós o intuitivo. Quando desequilibrado funcionando com tendência ao excesso nos tornamos excessivamente intelectuais. Contudo quando seu funcionamento é deficitário, revela-se em nós, o ignorante.


Sahashrara – Lótus de mil pétalas. Chacra coronário. Está localizado no alto da cabeça. Chamado de mil pétalas representa o desabrochar do corpo sutil. É através deste chacra que se dá a união com um universo. E isso até de modo literal. Quando andamos pelas ruas, o topo da cabeça aponta para o universo e com ele troca energia. Os nossos pés estão na terra, conectados à energia terrestre. Assim fazemos a ligação entre a terra e o universo. O Sahashrara está associado, no corpo físico, com a glândula pineal e o córtex cerebral, com a consciência e além dos elementos. As cores do Lótus de Mil Pétalas é o branco, a cor prata e à qualidade da luminosidade. O desafio humano do Sahashrara é o ligar-se e render-se à consciência divina – ou como diz o Hino Guarani, à consciência de sua divindade. O desejo da alma deste chacra é o de conexão e utilização de energias infinitas, de conhecer o desconhecido, experimentar o sentido transcendental da vida. O arquétipo do Sahashrara é a essência. Sahasrara equilibrado significa ser mestre. Funcionando em excesso, o desorientado. Abaixo do que devia, o arrogante.

Os chacras são muito importantes para o bom funcionamento do corpo, do espírito e da alma. O funcionamento de cada um deles tem influência sobre nossas vidas. Os chacras estão em nós, são parte esquecida de nós. Deste modo, e a esta altura, já começamos a desconfiar do motivo pelo qual o mundo tenha se transformado em um lugar desequilibrado. É normal sermos, de um lado, gananciosos, voluptuosos, dominadores, conquistadores, tagarelas, intelectuais e desorientados. Do outro lado, vítimas, mártires, submissos, solitários, tímidos, ignorantes e arrogantes. Isso pode ser dito de uma pessoa ou de um país. O diagnóstico é fácil: catástrofe generalizada de chacras desequilibrados.

Agora que já vimos que todos temos chacras e que eles são de muita importância, façamos uma viagem pelos chacras da Terra e não esqueçamos que o modelo é o mesmo. Será que os chacras da Terra também estão bloqueados? Estarão esses arquétipos também afetando a Terra?

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