sexta-feira, novembro 17, 2006

Capítulo 14 - Toda cachoeira traz abundância

As Cataratas do Iguaçu


“Todo rio traz mensagem de prosperidade; toda cachoeira traz abundância, renovação permanente, desde que o espírito siga o rio, em seu exemplo, e sua mensagem de fonte irradiante”

– Kaka Werá Jecupé



A Fonte da Neblina Criativa é um poderoso chacra secundário do Planeta Terra. Na Fonte da Neblina, a água, a floresta, a fauna, o vento, o trovão, as rochas, o relâmpago, o verde de suas bordas e você – representam diferentes formas de energias ou campos de consciência que se inter-relacionam, interagem e contribuem para a dança cósmica que é o que chamamos de Vida.

Não deixemos que o preconceito causado pela limitação da linguagem, nos faça ter idéias pejorativas concernente a palavra “secundário”. Chacra secundário não quer dizer “de segunda categoria”. Na visão de corpo que admite a existência de chacras, os secundários estão conectados aos principais e podem ser responsáveis por milhares de outros pontos ligados a eles. Assim, o chacra da terra conhecido como Y-Guaçu – está ligado a todos os chacras principais e secundários do Planeta, à grade energética do Planeta e ao cosmo – pois a terra não é um planeta isolado. Ela pertence a uma família de planetas que, por sua vez, pertencem a um sistema solar, que pertence a uma galáxia que, finalmente, pertence a um sistema de galáxias. E assim de maneira expansiva até onde não conseguimos mais visualizar.

Estamos ligados energeticamente ao Lago Titicaca, a Machu Picchu, ao Pantanal, à desembocadura do Amazonas, ao Planalto Central brasileiro, ao pampa, às punas, yungas e páramos sagrados, ao maravilhoso corredor de vulcões – centenas deles – que pontilham a sagrada Cordilheira dos Andes desde a Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, a América Central, Caribe atingindo os Estados Unidos, Canadá e Alasca. Os vulcões continuam por todo o Planeta, pelo oceano Pacífico, pela Ásia, África, Europa. Esses chacras se espalham por todo o Planeta.

Assim podemos começar a formar uma visão da Fonte da Neblina Criativa como parte de uma totalidade e não como um acidente geográfico que serve para “dividir” ou marcar a fronteira de dois países sul-americanos. É a Y-Guaçu não-órfã. É a Y-guazu que tem irmãos e irmãs em todo o Planeta e no universo com quem se comunica, a quem afeta e por quem é afetada. Assim os buscadores da Paz e do Poder espiritual e pessoal que hoje encontram pouso e guarida no Monte Shasta ou em Uluru kattjuta, em Glastonbury ou no Lago Titicaca podem ter certeza que a Y-guaçu secreta e sagrada é parte desse todo, dessa família. Assim como em Ulluro há Tjukurpa e canto, em Y-guaçu há neblina, amor e hino.

Um dos principais problemas para Y-Guaçu é que esta Fonte da Neblina ainda não foi reconhecida pelos cidadãos dos países guardiões e das comunidades circundantes desta Fonte, como um Lugar Sagrado. As comunidades locais ainda não foram motivadas a honrá-la, revalidá-la, reivindicá-la como um Lugar Sagrado de Paz e Poder. Então como esperar que o mundo se dê conta de sua sacralidade? O motivo desta não revalidação por parte das populações locais é o véu de Maya que nos manteve ocupados durante a curta história européia da região. Maya é a bela deusa das necessárias energias ilusórias. As preocupações diárias, a sobrevivência, a construção de patrimônio manteve a todos com olhos cobertos por trás de seu denso véu. Mas agora chegou a hora de tentar olhar através do véu da bela deusa que nos mantêm iludidos.

Os cidadãos dos países guardiões de Y-Guaçu se iludiram. Quando muito Y-Guaçu é considerada uma bela paisagem. Para outros, uma simples atração de e para turistas. Assim como o mel é uma atração para abelhas. E assim a Y-Guaçu que realmente é, foi esquecida. Não é vivida. É vista com olhos emprestados. Expulsaram dela todo o sagrado para fabricar, em cima dela, uma coisa artificial. Graças à violenta história da colonização, os guaranis que a sacralizaram, foram expulsos da Terra.

Até a “Lenda das Cataratas”, contada para turistas, no lado brasileiro de Y-Guaçu assegurou a missão de tirar o povo guarani de circulação – até mesmo da circulação da “lembrança” coletiva. Na Lenda, a bela índia Naipi e o heróico índio Tarobá são kaingangs. Diz a lenda que os índios kaingangs viviam nas Cataratas do Iguaçu. Coisa negada pelos próprios kaingangs – que sempre ocuparam a área dos campos de Guarapuava. Uma área conhecida na língua Kaingang como Koran-bang-rê. Mas não existe crime perfeito. A lenda supostamente kaingang, deixa descoberta sua debilidade, ao dar, ao suposto deus-serpente kaingang, um nome guarani: M’boi. Por que uma tribo kaingang daria um nome guarani a uma divindade sua?

A mesma versão adaptada para o consumo no lado argentino da “fronteira”, afirma que o casal heróico é guarani. Como é possível que os moradores das Cataratas do Iguaçu fossem kaingangs no lado brasileiro e guaranis no lado argentino? A ilusão causada por Maya não nos permite sequer ver as coisas em um contexto histórico. Estamos atribuindo a visão de 100 anos a um ambiente de milhares de anos. Nesta visão distorcida, o rio é um elemento de separação. Se hoje o rio separa argentinos e brasileiros, então ele sempre separou alguma coisa ou alguém. Daí a necessidade de criarmos a fronteira kaingang-guarani. É um esforço de dizer que a fronteira sempre existiu. É não poder definir quem chegou primeiro o rio ou nossos jovens países de criação tão recente. Este já é um passo importante para aviltar a “lembrança” da qual as Cataratas são a fonte. Para aviltar o rio e mundo natural.

A sacralidade de Y-Guaçu esta aí. No ar. No éter. Para reivindicar esta sacralidade para a região é necessário resgatar o guarani e sua lembrança. Sua cultura. O canto sagrado. O que significa, resgatar com o coração, as Cataratas do Iguaçu como um lugar de Paz e Poder – um chacra da terra, um vórtice poderoso de energia. Não somente como um lugar turístico. Uma fonte de dinheiro. Um playground desligado da realidade. Uma espécie de disneilândia natural. Este uso é um insulto. Mesmo que seja recomendado por especialistas e sacerdotes das ciências reducionistas ou pelas autoridades da chamada “proteção ambiental”.

A Fonte da Neblina Criativa, as Sagradas Cataratas do Iguaçu, bem como o rio Iguaçu, correm perigo. Estão ameaçados. Não só pelo abuso de certas explorações turísticas bem como outros usos mais perigosos. Sobre as Cataratas do Iguaçu e o rio Iguaçu pende a ameaça de construção de mais hidrelétricas ou de canais de desvio de água para suprir a reservatórios de hidrelétricas que podem, um dia, comprometer o suprimento de água para a Fonte da Neblina Criativa.
Isso já acontece. Os níveis de água que chegam às Cataratas já não são os mesmos que a Natureza de Gaia auto-regulou ou instituiu há milênios. O rio Iguaçu está doente embora as Cataratas sejam um grande esforço dele, em concluir sua viagem com um espetáculo. Há uma ameaça para a Neblina das Cataratas. Quando a Neblina Criativa das Cataratas acabarem, nós desaparecemos. Eis uma profecia local similar à profecia dos índios Shastas sobre a Neve do Monte Shasta.

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